terça-feira, 17 de setembro de 2013

A POESIA DO POVO...

Oliveira de Panelas (homenageando Luiz Gonzaga)
Na fazenda Caiçara ele nasceu
Dia 13, dezembro o ano doze
Superar seu reinado ninguém ouse
Pois aos gênios o mundo se rendeu
Dezenove, oito nove, faleceu
Dia dois de agosto, triste dia!
A sanfona calou a melodia
O Baião não tem mais substituto
O Nordeste gemeu e botou luto
Pela falta de sua companhia.
Pedro Bandeira
Admiro demais o ser humano
Que é gerado num ventre feminino
Envolvido nas dobras do destino
E calibrado nas leis do soberano
Quando faltam três meses para um ano
A mãe pega a sentir uma moleza
Entre gritos lamúrias e esperteza
Nasce o homem e aos poucos vai crescendo
E quando aprende a falar já é dizendo:
Quanto é grande o poder da Natureza.
Gleison Nascimento
A vida é um sopro da eternidade,
Que esfria a sopa da morte malvada,
Que espera a hora, sofrida e calada,
De mostrar pro mundo a sua maldade,
E um cantador preso à liberdade,
Uns versos cansados gosta de rimar,
E quando a morte vem pra lhe buscar,
Recorre a fé, buscando guarida
Briga com a morte, pois gosta vida
Cantando galope na beira do mar.
E faz sua arte um trunfo eterno,
E canta bonito prá Deus lhe sentir,
E por essa prece, Deus vai lhe ouvir,
E vai lhe tocar, no afago mais terno
E manda a morte , voltar pro inferno
Pois esse poeta ela não vai levar,
E segue o poeta na vida à rimar,
E Deus escutando seu canto mais grato
Tomando um vinho daqueles barato
Com dez de galope na beira do mar.
Cego Sinfrônio
Eu, atrás de cantadô
Sou como boi por maiada
Como rio por enchente
Como onça por chapada
Como ferrôi por janela
Menino por gargaiada!
Eu, atrás de cantadô
Sou como abêia por pau
Como linha por agúia
Como dedo por dedal
Como chapéu por cabeça
E nêgo por berimbau
Eu, atrás de cantadô
Sou como vento por praia
Como junco por lagoa
Como fogo por fornaia
Como piôi por cabeça
Ou pulga por cós de saia!
Lourinaldo Vitorino
(Em homenagem a Otacílio Batista Patriota)
As violas de luto soluçando
Dão adeus ao Bocage do repente,
Um fenômeno de arte, um expoente,
Que de cinco a seis décadas improvisando
Sua voz de trovão saiu rasgando
Modulando a palavra em cada nota
Pra cultura um nocaute, uma derrota,
Um desastre, uma perda, um golpe horrendo,
Enlutado o repente está perdendo
Otacílio Batista Patriota.
Zé Bezerra
Inesquecível sertão
Terra dos meus ancestrais
Dos meus avós, dos meus pais
Todos do mesmo rincão
Tenho a recordação
Daquele tempo passado
Que tirava no roçado
As moitas de mororó
Caçava, armando quixó
No sertão que fui criado.
Ali o povo vivia
Com muita simplicidade
Sem requinte e vaidade
Sem modismo e fantasia
Cada família queria
Ver cada filho educado
O povo era acostumado
A servir e respeitar
Dava gosto se morar
No sertão que fui criado.
Sertão caboclo da luta
Do camponês destemido
Que mesmo sendo esquecido
Faz valer sua conduta
E da cabocla matuta
Que faz serviço pesado
Limpa mato, tange gado
Ceva capão e suíno
Todo ano tem menino
No sertão que fui criado.
Essa gente nordestina
Tem cultura e tradição
É bom se ver no sertão
Toda festança junina
No toque da concertina
O forró é animado
No pavilhão enfeitado
Ali perto da floresta
É meio mundo de festa
No sertão que fui criado.
Sertão fértil, terra boa
Que tem raposa e gambá
Xexéu, concriz, sabiá
Garça e pato na lagoa
Orelha de pau e broa
Fígado de porco torrado
Milho assado e cozinhado
Galinha que cacareja
Bode que berra e bodeja
No sertão que fui criado.

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