Oliveira de Panelas
(Quando da morte de Otacilio Batista)
Por ser leal cantador
Vivemos os mesmos planos
Em nossos 23 anos
Entre a alegria e a dor
Porém quis o Criador
Lhe envolver em um véu
Para receber o troféu
Que Deus lhe deu de presente
Hoje foi fazer repente
Nas cantorias do céu”.
* * *
Manuel Filó
Quando vem a primeira trovoada
A magia do verde enfeita os montes
A espuma de sapo pelas fontes
Pinta um quadro na margem da estrada
A fumaça da broca mal queimada
Forma torre num vácuo da colina
As aranhas espalham serpentina
Na ramagem do bosque mais deserto
Seu projeto tem tudo pra dar certo
Uma loja de renda de campina
Um besouro enfeitado de metal
Apresenta seu quadro pitoresco
Revirando um cocô ainda fresco
Desprezado no canto de um curral
Uma farda de gala especial
Ele exibe depois da trovoada
Sua túnica brilhosa e desenhada
É bonita, perfeita e é moderna
Só retorno ao destino da caserna
Quando deixa a comida preparada.
* * *
Bob Motta
Teus seios fartos, querida;
lindos e maravilhosos,
que nem pêssego, por fora,
aveludados, sedosos;
deixam-me aceso, à espreita,
têm a medida perfeita,
para os meus lábios gulosos…
* * *
Biu Dionísio
Meu sonho de alpinismo
No precipício caiu
Quando eu caí todos viram
Quando escalei ninguém viu
Os monstros feitos de mármore
Que a mão de Deus esculpiu.
* * *
Otoni Tomás
Cachaça só presta boa
E boa é Samanaú
Vai sem qualquer tira-gosto
Nem se compara a Pitu
Que só desce acompanhada
de goiaba ou de caju.
* * *
Edezel Pereira
Criança é rosa orvalhada
Na horta da providência
Jogando gotas de essência
Nos lábios da madrugada
Não tem maldade guardada
Nem pelo ódio é vencida
Por isso em sua guarida
Deus se encontra diariamente
Criança é um sol nascente
No alvorecer da vida.
* * *
Ivanildo Vila Nova
É candidato a finado
Quem do fumo é sempre fã
Porque esse tabagismo
É o próprio Vietnam
E transforma o gordo hoje
Em esqueleto amanhã.
* * *
Pinto de Monteiro
Eu fui como cascavel
Todos tinham medo dela
Hoje qualquer um me pega
Me amarra, me desmantela
Que onça depois de morta
Qualquer um briga com ela.
Se ninguém envelhecesse
Eu não estava aonde estou
Velho, doente, acabado
Sem saber pra onde vou
Toda alegria que tinha
Veio o tempo e carregou.
* * *
José Cardoso
Se você dá uma flor
Pra criatura carente
Dormida a quem está com sono
Remédio a quem está doente
Sua alma tem lugar
No Reino do Onipotente.
* * *
Dimas Batista
Nasci no sertão, desfrutando as virtudes
Do tempo de inverno, fartura e bonança.
Depois veio a seca, fugiu-me a esperança
Deixando-me assim, de tristeza tão rude.
Vi secos os rios, fontes e açudes.
E eu que gostava tanto de pescar,
Saí pelo mundo tristonho a vagar,
Fui ter numa praia de areias branquinhas
E vendo a beleza das águas marinhas,
Cantei meu galope na beira do mar.
Ali na cabana de alguns pescadores,
Fitando a beleza do mar, do arrebol,
Bonitas morenas queimadas de sol,
Alegres ouviram cantar meus amores.
O vento soprava com leves rumores,
O pinho a gemer, depois de chorar.
Aquelas morenas à luz do luar
Me davam impressão que fossem sereias,
Alegres, risonhas, sentadas nas areias,
Ouvindo os meus versos na beira do mar.
Eu sempre que via, lá no meu sertão,
Caboclo vaqueiro de grande bravura,
Vestido de couro, na mata mais dura,
Entrar pelo mato e pegar o barbatão,
Ficava pensando, na minha impressão:
Não há quem o possa, em bravura igualar;
Mas depois que vi o praiano pescar
Numa frágil jangada, ou barco veleiro,
Achei-o tão bravo, tal qual o vaqueiro,
Merece uma estátua na beira do mar.
* * *
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