Fernando de Barros e Silva
Os gestos de Dilma Rousseff para inibir e controlar um pouco a corrupção não encontram eco no meio político em geral, o que é sabido, mas tampouco têm o respaldo do PT, o que é menos falado.
Quem, no partido da presidente, abraçou em público, se não a causa, ao menos o discurso da faxina? Talvez Eduardo Suplicy, o eterno Rousseau do PT, levante a mão, solitário e sorridente.
A solidão que chama a atenção, porém, é a da própria Dilma, desamparada pelo partido, que - diga-se - nem dela é.
O PT não se deixa mobilizar pela moralização da política, em primeiro lugar, porque é sócio majoritário do sistema que aí está, do qual Lula foi (ou ainda é) o grande fiador.
Desde que chegou ao poder, em 2002, o partido encontrou basicamente duas maneiras para ser aceito como “um dos nossos” pelo establishment: distribuiu dinheiro para banqueiros e tolerou vícios fisiológicos e esquemas de corrupção enraizados no sistema político, muitas vezes participando deles.
Além disso, depois do mensalão, o PT percebeu que a “agenda ética” tem impacto residual na base da sociedade. E soube tirar dividendos da máxima brechtiana: primeiro vem o estômago, depois a moral.
Diante de evidências de corrupção à sua volta, Lula tratava de atacar a “mídia burguesa” para sair em defesa de seus corruptos. Buscava deslegitimar a acusação para proteger os ladrões aliados, como se tudo não passasse de mais uma reedição do golpismo udenista contra o pai dos pobres - Getúlio ou ele.
Dilma não age assim. Não é de espantar, também por isso, que o PT se sinta mais confortável com Lula.
O apoio suprapartidário na cruzada pela ética que a presidente recebeu anteontem de nove senadores tem algo de quixotesco. A causa é nobre, mas encampada pela turma de Pedro Simon e Cristovam Buarque assume ares românticos e sonhadores, de quem parece meio descolado da realidade.
Os neoamigos de Dilma são o reflexo involuntário da sua solidão na Petelândia.
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