AMANHÃ CHEGARÁ A PRIMAVERA...SERÁ SETEMBRO
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
QUANDO SETEMBRO CHEGAR...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.
AMANHÃ CHEGARÁ A PRIMAVERA...SERÁ SETEMBRO
EU ABRO O MEU NERUDA E APAGO O SOL...VINICIUS DE MORAES...
Cotidiano n°2
Vinicius de Moraes
Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
UM NEGÓCIO DA CHINA...POR SAMIR DIEB.
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UMA CARTA DO DR.ROBERTO GUERRA...
"Antes de julgares a minha vida ou caráter...
Calça os meus sapatos e percorre o caminho que eu percorri...
... vive as minhas tristezas, as minhas dúvidas, as minhas alegrias!!
Percorre os anos que eu percorri, tropeça onde eu tropecei
e levanta-te assim como eu o fiz!!!
Cada um tem a sua própria história!"
E então, só aí, poderás julgar-me!
E talvez, nem assim, poderás julgar-me!!!!!!
VELHO DE PROGRAMA...
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terça-feira, 30 de agosto de 2011
NINA DIZ QUE TEM A PELE COR DE NEVE...e dois olhos negros como breu.
Nina
Chico Buarque
Nina diz que tem a pele cor de neve
E dois olhos negros como o breu
Nina diz que, embora nova
Por amores já chorou que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
Nina adora viajar, mas não se atreve
Num país distante como o meu
Nina diz que fez meu mapa
E no céu o meu destino rapta
O seu
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela
A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela
Posso imaginar por dentro a casa
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara
Posso até adivinhar a cara que ela faz
Quando me escreve
Nina anseia por me conhecer em breve
Me levar para a noite de moscou
Sempre que esta valsa toca
Fecho os olhos, bebo alguma vodca
E vou...
XÔ SATANÁS...
Traga-me inspiração –
Nas aureolas virtuais
Cheias de informação –
Para que eu faça um relato
Regido pela razão.
Não fique enciumado.
Aponte a vereda certa
Para que eu seja inspirado
Trazendo fidelidade
Ao que é aqui for relatado.
Pode se sentir feliz
Com tanta barbaridade
Ocorrendo no país?
Numa nação em que rico
Não tem cadeia ou juiz?
Sempre foi exuberante.
Se a política envergonha
De uma maneira humilhante
Tínhamos no futebol
Subterfúgio importante.
Porém a corrupção
Que aqui fincou morada
Saiu da esfera política
Por esta está saturada
E entrou no futebol
Fingindo não querer nada.
Exposta pro mundo inteiro.
Os escândalos são aqui,
Mas também no estrangeiro.
Sendo Ricardo Teixeira
Vergonha pro brasileiro.
Anos Ricardo Teixeira
Preside a CBF
Levando na “brincadeira”
E má fé a confiança
Da sociedade inteira.
Maracutaia em tufões
Por exemplo, o caso que
Ele recebeu milhões
Em propina isto devia
Ser resultado em sanções.
Este caso da propina
Onde a emissora Globo,
Uma rede muito “fina”,
Não noticia uma linha
Quem será que determina?
Ganhou o Brasileirão
Por isso fica calada
Perante a corrupção
Enquanto o mundo alardeia
Com grande indignação.
Em que o erro galopa:
Ter crise no futebol
Numa véspera de copa?
Em ações que envergonha,
A CBF se ensopa.
Por exemplo, a cerimônia
De sorteio do evento
Da copa, está na cara
Que houve faturamento
Ser gastado no momento.
Gastar num evento, amigo,
Trinta milhões de reais?
Ah e quem organizou
Esta festa, meu rapaz?
Foi a Globo, rede Globo,
Isto é ou não é demais?
Já sei, foi a CBF.
Que CBF que nada,
Promessa, um puro blefe,
Foram os governos do Rio,
Agindo em favor do CHEFE.
São muitas acusações
Contra o chefe Ricardo
Teixeira planeta afora.
Nossa memória é manchada
Com este horroroso dardo.
Diante dessa vergonha,
Dessa atuação grosseira
O Brasil se manifesta
Com uma mensagem certeira
Gritando por todo canto
“Fora Ricardo Teixeira”.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
SOBRE O BAR SAVOY, DE AMANDIO OTAVIO FERNANDES, RECIFE -PE
Chopp
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados
Carlos Pena Filho
(1929-1960)
SOU EU...
Sou Eu
Chico Buarque
Na minha mão
O coração balança
Quando ela se lança
No salão
Pra esse ela bamboleia
Pra aquele ela roda a saia
Com outro ela se desfaz
Da sandália
Porém depois
Que essa mulher espalha
Seu fogo de palha
No salão
Pra quem que ela arrasta a asa
Quem vai lhe apagar a brasa
Quem é que carrega a moça
Pra casa
Sou eu
Só quem sabe dela sou eu
Quem dá o baralho sou eu
Quem manda no samba sou eu
O coração
Na minha mão suspira
Quando ela se atira
No salão
Pra esse ela pisca um olho
Pra aquele ela quebra um galho
Com outro ela quase cai
Na gandaia
Porém depois
Que essa mulher espalha
Seu fogo de palha
No salão
Pra quem que ela arrasta a asa
Quem vai lhe apagar a brasa
Quem é que carrega a moça
Pra casa
Sou eu
Só quem sabe dela sou eu
Quem dá o baralho sou eu
Quem dança com ela sou eu
Quem leva este samba sou eu
Etc.
NADA POR MIM....
Nada Por Mim
Kid Abelha
Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai, e eu não fui
Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu
Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar
Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar
SOBRE NOEL ROSA...
Para Me Livrar do Mal
Noel Rosa
Estou vivendo com você
Num martírio sem igual
Vou largar você de mão
Com razão
Para me livrar do mal
Supliquei humildemente
Pra você se endireitar
Mas agora, francamente
Nosso amor vai se acabar
Vou embora afinal
Você vai saber porque
É pra me livrar do mal
Que eu fujo de você
enviada por danilonev
DESEJANDO UM BOM TEMPO...
Bom Tempo
Chico Buarque
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que o passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Do duro toda semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí
No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, a alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus
A POESIA DE CARLOS PENA FILHO...
Memórias do boi Serapião
Este campo,
vasto e cinzento,
não tem começo nem fim,
nem de leve desconfia
das coisas que vão em mim,
Deve conhecer, apenas
(porque são pecados nossos)
o pó que cega meus olhos
e a sede que rói meus ossos.
No verão, quando não há
capim na terra
e milho no paiol
solenemente mastigo
areias, pedras e sol.
Às vezes, nas longas tardes
do quieto mês de dezembro
vou a uma serra que eu sei
e as coisas da infância lembro:
instante azul em meus olhos
vazios de luz e fé
contemplando a festa rude
que a infância dos bichos é.
No lugar onde eu nasci
havia um rio ligeiro
e um campo verde e mais verde
de um janeiro a outro janeiro
havia um homem deitado
na rede azul do terraço
e as filhas dentro do rio
diminuindo o mormaço.
Não tinha as coisas daqui:
homens secos e compridos
e estas mulheres que guardam
o sol na cor dos vestidos
nem estas crianças feitas
de farinha e jerimum
e a grande sede que mora
no abismo de cada um.
Havia este céu de sempre
e, além disto, pouco mais
que as ondas nas superfícies
dos verdes canaviais.
Mas, os homens que moravam
na língua do litoral
falavam se desmanchando
das terras gordas e grossas
daquele canavial
e raras vezes guardavam
suas lembranças mofinas
as fumaças que sujavam
os claros céus que cobriam
as chaminés das usinas.
As vezes, entre iguarias,
um comentário isolado:
a crônica triste e curta
de um engenho assassinado.
Mas logo à mesa voltavam
que a fome bem pouco espera
e os seus olhos descansavam
em porcelanas da China
e cristais da Baviera.
Naquelas terras da mata
bem poucos amigos fiz,
ou porque não me quiseram
ou então porque eu não quis.
Lembro apenas um boi triste
num lençol de margaridas
que era o encanto do menino
que alegre o tangia para
as colinas coloridas.
Um dia. naquelas terras
foi encontrado um boi morto
e os outros logo disseram
que o seu dono era o homem torto
que em vez de contar as coisas
daqueles canaviais
vivia de mexericos
“entre estas Índias de leste e as Índias Ocidentais”.
A verde flora da mata
(que é azul por ser da infância)
habita os meus olhos com
serenidade e constância.
Este campo,
vasto e cinzento,
é onde às vezes me escondo
e envolto nestas lembranças
durmo o meu sono redondo,
que o que há de bom por aqui
na terra do não chover
é que não se espera a morte
pois se está sempre a morrer:
em cada poço que seca
em cada árvore morta
em cada sol que penetra
na frincha de cada porta
em cada passo avançado
no leito de cada rio
por todo tempo em que fica
despido, seco, vazio.
Quando o sol doer nas coisas
da terra e no céu azul
e os homens forem em busca
dos verdes mares do sul,
só eu ficarei aqui
para morrer por completo,
para dar a carne à terra
e ao sol meu branco esqueleto,
nem ao menos tentarei
voltar ao canavial,
pra depois me dividir
entre a fábrica de couro
e o terrível matadouro
municipal.
E pensar que já houve um tempo
em que estes homens compridos
falavam de nós assim:
o meu boi morreu,
que será de mim?
Este campo,
vasto e cinzento,
não tem entrar nem sair
e nem de longe imagina
as coisas que estão por vir,
e enquanto o tempo não vem
nem chega o milho ao paiol
solenemente mastigo
areia, pedras e sol.
domingo, 28 de agosto de 2011
O ANIVERSÁRIO DE AMANDIO OTÁVIO FERNANDES....
DR BERNARDO COM GRACINHA E ADRIANO PIMENTEL COM SUELÍ, E EULINA BEZERRA.
AMANDIO OTÁVIO COMANDANDO A MESA.
DR BERNARDO COM DR GUEDES.
DR BERNARDO, DR GUEDES E A PROFESSORA EULINA BEZERRA, GRANDE AMIGA DE IRACÍ E CHICO LIMA,PROFESSORES DO GINÁSIO NESTOR MARINHO EM NOVA CRUZ DO NUNCA MAIS...
VIOLANTE,EULINA,DALADIANA,BERNARDO E GRACINHA...
SEXTA Á NOITE FOMOS AO GUINZA MIDWAY,COMEMORAR O ANIVERSÁRIO DE AMANDIO, O MEU CUNHADO...NOITE AGRADAVEL,COM TODA A FAMÍLIA,REGADA Á CARMEM,VINHO TINTO, E AO SOM DO PIANO...NO MEIO DA FESTA, CHAGA UM GARÇON COM OUTRA GARRAFA DE CARMEM E DISSE:ISTO É UM PRESENTE QUE UM EX ALUNO LHE MANDOU...ERA GUEDES, MEU ALUNO DO PRÉ-VESTIBULAR DO MARISTA...FILHO DE IRACÍ GUEDES E DE ]DO SAUDOSO DESEMBARGADOR CHICO LIMA...TIVE O PRAZER DE ABRAÇA-LO, E SENTÍ O RECONHECIMENTO QUE O MEU EX ALUNO TEVE POR SEU VELHO PROFESSOR DE PRÉ, ATRAVÉS DAS SUAS PALAVRAS E DO SEU GESTO...GENTE FINA É OUTRA COISA...GUEDES É O JUIZ DA SEGUNDA VARA DE NATAL...TRAZ NA CABEÇA A INTELIGENCIA DO DESEMBARGADOR CHICO LIMA, E NO CORAÇÃO A BONDADE DE MÃE NUCA(DONA NANUCA), UMA ALMA BONDOSA DE NOVA CRUZ...
ULTIMATUM...FERNANDO PESSOA...
ULTIMATUM
Mandato de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstratamente o infinito.
sábado, 27 de agosto de 2011
JOÃO CABRAL DE MELO NETO...
João Cabral de Melo Neto
Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
UMA CRONICA DE JOCA SOUZA LEÃO...
“O ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete”, disse Aristóteles. “E o chato consulta o Google”, digo eu, pois também sou filho de Deus e discípulo de Platão. O Chato do Google é o cara que, tablet ou smartphone em punho, consulta o Google na hora da discussão e destrói a afirmação do ignorante, esclarece as dúvidas do sábio e interrompe a reflexão do sensato. Fim de papo. Só ele pontifica. Datas, grafias, literatura, autores, atores, letras de música, história, geografia, mitologia grega… e tudo o mais que possa ser tema de uma boa discussão de bar. Se um cara desses baixar na sua mesa, expulse-o imediatamente, antes que seja tarde.
Numa mesa do Dom Pedro, cuba-libre e uísque corriam soltos, cada um sabia mais medicina que o outro, apesar de não haver um único médico presente. Discussão acirrada: a diferença entre caduquice e Alzheimer. Clávio Valença resolveu a parada: “Da Serra das Russas pra cima é caduquice; pra baixo, Alzheimer.” Tivesse um Chato do Google por lá, não tinha discussão. Nem a frase de Clávio.
Mas, vez por outra, felizmente, o Chato do Google quebra a cara. Outro dia, mesmo, num eventozinho desses que reúne intelectuais e curiosos, um cidadão impudente anunciou e recitou um poema que seria de Carlos Drummond de Andrade. Não era. Vexame. (Fosse ele leitor do poeta e não do Google, reconheceria, logo no primeiro verso, que o dito cujo era fake.) Dia seguinte, um leitor de verdade pôs em suas mãos um exemplar das obras completas de Drummond: “Se achar o poema que você recitou ontem, o livro é seu.”
Larry e Sergey, os donos do Google, não criaram o site para sacanear nem acabar com a farra de ninguém (dizem até que o Sergey é bom de copo). O Google é um negócio arretado. Só não faz mágica, não transforma ignorante em sábio num clique. Tem que saber consultá-lo. Antes de tudo, saber, ainda que superficialmente, sobre o que se está pesquisando. Confiar desconfiando, checando, rechecando e, sobretudo, observando as fontes. Coisas que o Chato do Google geralmente não faz ou não sabe fazer.
A USP coordenou uma pesquisa sobre a qualidade dos textos publicados na internet. Selecionaram, aleatoriamente, mil e um artigos e teses que tratavam do mesmo tema, antibiótico, e os submeteram aos doutos da Universidade nas áreas de Medicina, Biomédica, Farmácia e Química. Resultado: cerca de 70% dos textos eram absurdos completos; 25% tinham algo a ver, ou seja, “ouviram o galo cantar, só não sabiam onde”; 5%, apenas, tinham, de fato, valor técnico ou científico reconhecido.
Apesar da pesquisa da USP, os médicos são as maiores vítimas do Chato do Google. O sujeito já baixa no consultório do médico com seu autodiagnóstico. E ai do doutor se o diagnóstico não coincidir. Veja só. Um paciente entrou no consultório de um médico conhecido no Recife, nem bom-dia deu: “Doutor, tenho Síndrome de Carpaccio.” “Síndrome de quem?” O paciente, com certo ar de superioridade, soletrou a iguaria italiana. E discorreu sobre seus sintomas e queixas. O doutor o examinou. “Clinicamente o senhor não tem nada.” E prescreveu a receita: “Pare de consultar o Google sobre doenças! Vá a um restaurante italiano e peça, como entrada, um bom carpaccio com mostarda, parmesão e azeite.”
Enquanto isso, no Bar do 28, o poeta Garibaldi Otávio cantarolava o “Torresmo à Milanesa” (não precisa consultar o Google pra saber de quem é o samba: Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro): “Vamos armoçar / Sentados na calçada / Conversar sobre isso e aquilo / Coisas que nóis não entende nada.”
* * *
Crônica publicada originalmente no Jornal do Commercio em 27 de agosto de 2011
POEMA DOS OLHOS DA AMADA...VINICIUS DE MORAES...
Poema Dos Olhos Da Amada
Vinicius de Moraes
Oh, minha amada
Que os olhos teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus
Oh, minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus
Oh, minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus
SOBRE OS OS DESEJOS...UM PÉNIS GRANDE;...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
LEMBRANDO VINÍCIUS...
A Hora Íntima
Vinicius de Moraes
Composição : Vinicius de Moraes
Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: - Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: - Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: - Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: - Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: - Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
UMA MEDIDA ANTI SEQUESTRO....POR SOCORRO ROCHA.
QUE SACAR DINHEIRO NUM CAIXA ELETRÔNICO, MANTENHA A CALMA E TECLE SUA
SENHA DE MANEIRA INVERSA!
POR EXEMPLO, SE SUA SENHA FOR 1234, VC TECLA 4321. O CAIXA ELETRÔNICO
VAI TE DAR O DINHEIRO, MAS VAI AVISAR A POLICIA, POIS DIGITAR UMA SENHA
INVERTIDA ACIONA O MECANISMO DE EMERGÊNCIA!
POR FAVOR, PASSE A TODOS, ISSO E MUITO IMPORTANTE E A MAIORIA DAS PESSOAS
AINDA NÃO SABE DISSO.
SOBRE RELACIONAMENTOS...
NÃO SEI EXATAMENTE o que nos faz querer abrir mão da solidão, pode ser algo cármico como praticantes do espiritismo acreditam, coincidência, espirito de sobrevivência ou ainda a crença no que minha professora de “Educação Moral e Cívica” nos passava: “o homem não é uma ilha”.
Mas, de qualquer forma, tanto faz. O fato é que a maioria de nós deseja um par, por pior que ele pareça ser aos olhos alheios.
No tempo dos meus avós, os relacionamentos “duradouros” se iniciavam ainda na adolescência, não raro era alguém casar com 16 anos, tendo aquela penca de filhos na sequência.
Hoje é quase certo de que a primeira namorada ou o primeiro namorado não será o ponto final na vida afetiva de alguém. Por esse caminho, muitos passarão até que a vida acabe.
Pelo menos uma coisa é certa na vida de todos, um dia tudo que existe desaparece ou muda para algum lugar que não conhecemos.
Uma das minhas teorias é que as relações acabam para que nós nos desapeguemos aos poucos do que significa estar vivo e ter desprendimento para quando a hora final chegar.
Conheço pessoas que se casaram mais que cinco vezes. Isso é que é gostar de casamento! Quando falo com elas sempre tenho a percepção de que nada é para sempre. Elas se mostram muito mais tranquilas ao falar de como o relógio da vida age, lentamente, silenciosamente, mas também, impiedosamente.
Muito bem, se é garantido a todos que morreremos algum dia, da mesma forma que também é notório que as pessoas estão se casando e separando mais, de que forma podemos trabalhar para manter um relacionamento com qualidade e certa longevidade?
Anote a receita: meia dúzia de galinhas pretas, dois litros de azeite de dendê, muito de caldo de galinha caipira (serve aquele vendido no supermercado), três quilos de cuscuz marroquino e um frasco de pimenta.
Depois de tudo comprado, mande um chef de cozinha preparar um bom almoço. Se vai resolver eu não sei, mas fome ninguém passará!
Brincadeira a parte, seria leviano da minha parte afirmar existir uma regra mágica, e muita inocência de quem acredita.
Pontes ou muros? Ouvir é mais difícil que falar
Porém, acredito que existe um caminho universal para fazer a travessia entre o que é bom para um e o que é bom para o conjunto, é um bem antigo, mas muito desprestigiado nos últimos tempos: o diálogo.
Não estou falando daquela conversa fora onde um olha para o teto ou para a televisão enquanto o outro finge escutar enquanto responde mensagens no computador.
Quando falo em diálogo, me refiro a capacidade de abrir os ouvidos e a mente para que a comunicação ocorra.
Parece muito fácil escutar o que os outros dizem e, em tese, é mesmo. Facílimo! O problema está mesmo em nos mostrarmos abertos para os sons que os ouvidos estão trazendo. Isso sim é complicado.
Quando evitamos “ouvir” e só “escutamos”, a ponte entre os diversos mundos não é construída. Em boa parte dos casos, ao invés de pontes, acabamos por construir muros.
Discordo da frase antiga que dizia “quando um não quer, dois não brigam”. Isso podia funcionar, mas não em uma época onde as partes de um relacionamento são iguais, pelo menos, deveriam ser.
É muito possível que brigas ocorram apenas porque um lado quer, por outro lado, acho muito improvável que um desentendimento termine por conta apenas de um dos lados.
Se “ouvir” o outro fosse fácil, separações não existiriam. Duvido muito que as diferenças entre duas pessoas que tem afinidades e afeto sejam suficientes para separar o casal. É preciso mais que isso, é necessário que o diálogo falte.
Com o tempo, as partes se cansam de argumentar e vão criando ressentimentos que ficam estocados até o dia do rompimento. Quando ocorre a separação geralmente se escuta tudo aquilo que deveria ter sido dito ao longo do tempo, e que, dependendo da forma com que seria posto, teria feito a relação se perpetuar ainda mais.
Falar sobre o que sente é um começo
Também preciso ressaltar que ninguém escuta o vento, portanto, faz-se necessário que ambos exponham suas divergências com a finalidade de resolvê-las.
Os homens têm muito mais dificuldade em expor seus sentimentos, basicamente por dois motivos:
- Foram ensinados a serem fortes, ou no mínimo, parecerem ser. Os homens acreditam que, ao abrir suas emoções demostrarão fraqueza.
- Falta de prática. Falar sobre futebol é rotineiro, mas falar sobre como se sente é muito raro.
As mulheres têm muito mais habilidade para falar sobre qualquer coisa, desde novas se mostram mais comunicativas, porém há um problema sério, tendem a perder o foco das discussões.
Em um mundo perfeito as mulheres deixariam claro o que lhes chatearam, de forma tranquila, sem envolver problemas da semana anterior, família ou alguma conjectura de coincidências e o homens se mostrariam mais dispostos a falar sobre como o que acontece influência na sua vida.
Pensem a respeito, será que a comunicação não está com problemas? Um professor que eu tive sempre dizia “comunicação não é o que você fala somente, mas também é o que o outro escuta”.
O amor ou a falta dele não acaba uma relação
Finalizando o tema, pude notar, ao longo dos anos e dos relacionamentos que vivi, é que o amor é supervalorizado quando se fala em manter um relacionamento vivo.
É preciso mais que amor. É preciso doação, o que inclui falar e ouvir.