segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NO DIA QUE FIZ 56 ANOS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


EU CONHECÍ A GRANDEZA HUMANA, NÃO FOI ATRAVESSANDO OS OCEANOS PACÍFICO, ATLANTICO E ÍNDICO,FOI QUANDO EU ERA CRIANÇA E ADOECIA,E MINHA MÃE VINHA DE MADRUGADA , DE PÉS DESCALÇO,DE PONTA DE PÉS, ME BUSCAR PARA DORMIR NO SEU QUARTO...EXUPERY

MAMÀE, EU VIM POR MINHA MULHER...MAS, VOLTEI POR VOCE...EXUPERY

A MINHA MÃE foi uma jóia que eu tinha, e na juventude,julgava-a ser banhada a ouro...Depois veio o tempo,com a a sua tinta prateada,que me mudou a cor dos meus cabelos e amadureceu-me a alma,e revelou que a minha velha,era jóia única,de ouro puro, e tinha sida lapidada por um ourives chamado DEUS.
Somente hoje,aos 56 anos,tenho a justa capacidade de compreender de onde vim...e esta constatação é amadurecida e amplificada, a medida que a gente vive, conhece pessoas, atos e omissões...
A minha MÃE cultivava os valores da alma,que só se entendem com o coração e a iluminação que vem de DEUS...para mamãe tinha valor o talento,a caridade, a música, a poesia,o pobre,as letras...estas coisas que ela adorava eram reflexos de DEUS...cultivava flores, tinha jardims,tratava das roseiras com a s mãos, tocando-as, com medo de feri-las,escutava os animais e as flores..
respeitava a natureza, sem se dizer ecologista,tinha a alma ajoelhada para os necessitados,sem se dizer caridosa,virava a mesa abruptamente diante de uma injustiça...
Me ninava cantando Dorival Cayme,dizendo que é tão tarde , e a noite já vem,todos dormem lá no céu também, e os anjinhos foram se deitar, e que mamaezinha, precisa descansar...
Só assistia as missas de mantilha,tão grande era a sua referencia á casa de DEUS...Quando comungava fechava os olhos, eu não sei como ela conseguia voltar ao seu lugar,de olhos fechados...ela transfigurava quando recebia o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jeus Cristo...
A minha mãe tinha veneração pelos pobres...elegia a CARIDADE, como o sentimento mais nobre da existência...praticava-a diuturnamente....
Ainda hoje,reverbera nos meus ouvidos e me acorda a alma, os seus apelos pelos pobres...quando viajava para estudar,ela insistentemente dizia nas despedidas,MEU FILHO,PRIMEIRO OS POBRES...era apaixonada por Artur da Távola,delirava com as suas cronicas...recitava Guerra Junqueiro, e quando eu queria criar passarinho em gaiola ela dizia:MEU FILHO,PRENDER A ASA É ENCARCERAR O ESPÍRITO... A VIDA SÓ TEM SENTIDO SE ELA FOR LIVRE...E ASSIM SOLTAVA NO AMANHECER ,TODOS OS PASSARINHOS QUE EU GANHAVA, NA MINHA INFÂNCIA...surpreendia, ela conversando com pedintes,carroceiros,mulheres abandonadas pelos maridos,era um porto de alívio para os aflitos...era irmã deles, na hora dos seus sofrimentos, apesar de ser irmã de dois almirantes...tinha ódio de homem que maltratava mulher...ensinava que uma mulher maltratada, chutasse nos ovos do agressor...
Minha mãe era da UDN, seguia politicamente o tio querido, Dr Luiz Antonio Ferreira dos Santos Lima, o grande médico clínico de Natal, no passado...apostou em Jànio Quadros,achava que ele poderia acabar com as BANDALHEIRAS...
Foi a primeira professora de inglês de Nova Cruz...ainda criança , me ensinou a tocar violão,me ensinou dois tons:Lá menor e Lá Maior...e eu nunca mais deixei de tocar...Tocava no acordeon, diariamente,dois tangos:LA CUMPARSITA E LENCINHO BRANCO...também sofejava-os na boca, balançando a rede, para que eu adormecesse...Minha mãe era incapaz de derrubar uma árvore,de tratar mal á um pobre,de ficar calada diante de uma injustiça...ela ficava do lado do mais fraco...
Já aos oitenta anos, dizia comigo:benado celestino, bicho danado,gosta de tudo o que eu gosto:DE DEUS,DOS POBRES , DE MÚSICA E DE POESIA...é uma satisfação saber que ela me viu, como sua xerox ...ela renascia com o meu entardecer... tornava-se aurora com o meu ocaso... Parava para escutar um depoimento de tristeza, de uma PUTA da rua do Sapo, do cabaré de Nova Cruz...e neste instante, eu criança,presenciava a sua alma de joelhos...eu lia os seus sentimentos pelos seu olhos...tinha tempo para escutar todo mundo...eu me contagiei...eu fiquei assim,contaminado pela sua bondade.
POIS BEM, MAMÃE...tudo o que você falou, eu vivi, sinto e constatei... é verdade, O VELHO TINHA RAZÃO ...a única coisa que ainda posso fazer por você,e isto eu semeio toda semana, e já passou para milhares de corações:EU DIGO AOS ESTUDANTES DE MEDICINA,NA FORMA DE ATOS , GESTOS E AÇÕES, SEMPRE, ME LEMBRANDO DAS SUAS SÚPLICAS:PRIMEIRO OS POBRES... E SOLTO NAS SALAS DE AULAS, AS ESTRELAS , AS FLORES,E OS PÁSSAROS QUE VOCE ME DEU...

um beijo, e ate um dia...

Benado Teletino...
e agora, eu vou parar para chorar um pouco...


Post Scriptum:mamãe, hoje faz 56 anos que eu saí das suas entranhas
e era domingo...e era o dia das mães...talvez foi o maior dia das mães da sua vida...
A Cegonha lhe disse no Cine Eden,vá pra casa que eu tenho uma encomenda
que veio do céu...era eu, mãmãe,eu já nascí maquiado pelas tintas do seu coração...crescí no seu rabo de saia...era o seu companheiro...me lembro de tudo,a apartir de quando voce esfregava batata de purga nas minhas virilhas,quando me trocava os panos...era bom pra brotoeja...me lembro quando voce foi a Paraninfa da turma do jardim de infancia,me entrgou o diploma, e no seu discurso, disse a professora,Irmã Edite,no Ginásio Nossa senhora do Carmo:a senhora é uma jardineira...e hoje colhe as mais LINDAS FLORES QUE JÁ DESABROCHARAM EM SEU JARDIM...e voce dizia que eu era o seu FIM DE RAMA...saudades! saudades! ainda hoje, eu tomo lambedor de angico e cumarú, e cheiro Vick_Vaporub, que voce friccionava no meu peito,quando eu cansava...mas Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, mas ainda sonho...

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