quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

FERNANDO PESSOA...

ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

: CULTURA POPULAR - Aristeu Bezerra
“Julgamos os outros por seus atos e a nós mesmos por nossas intenções.”
“Livros e amigos devem ser poucos, mas bons.”
“Entre dizer e fazer há um longo caminho a percorrer.”
“De boi manso me guarde Deus, que de bravo me guardo eu.”
“Pra bom entendedor, piscada de olho é mandado.”
“As necessidades unem, as opiniões separam.”
“Atravessa-se o rio onde é mais raso.”
“Bom é saber calar, até o tempo de falar.”
“Cada qual canta como lhe ajuda a garganta.”
“Barriga vazia não escuta sermões.”
“Galinha que canta é que é a dona dos ovos.”
“Macaco senta no toco para ver o rabo dos outros.”
“Quem tem burro e anda a pé, ainda mais burro é.”
“Ser humilde não é saber ser diferente, é sim saber ser igual.”
“O amor é como o sol, a nuvem o cobre, mas ele não se apaga.”
“Deus dá nozes a quem não tem dentes e dá dentes a quem não tem nozes.”
“Loucura é breve, longo é o arrependimento.”
“Mais vale um mau acordo do que uma boa demanda”
“Raposa que dorme não pega galinha.”
“Urubu quando está infeliz, cai de costas e quebra o nariz.”
“Zomba das cicatrizes quem nunca foi ferido.”

domingo, 27 de dezembro de 2015

PAPAI NOEL...

CARTA A PAPAI NOÉ – Luís Campos

Seu moço eu fui um garoto
Infeliz na minha infância
Que soube que fui criança
Mas pela boca dos outo.
Só brinquei com os gafanhoto
Que achava nos tabuleiro
Debaixo dos juazeiro
Com minhas vaca de osso
Essa catrevage, sêo moço
Que a gente arranja sem dinheiro.

Quando eu via um gurizin
Brincando de velocipe
De caminhão e de gipe
Bola, revólver e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto que dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruquê eu num pudia
Pegar naqueles brinquedo.

Mas preguntei uma vez
A uns fio de dotô
Diga, fazendo um favô
Quem dá isso pra vocês?
Mim respondeu logo uns três
Isso aqui é os presente
Que a gente é inocente
Vai drumí às vêis nem nota
Aí Papai Noé bota
Perto do berço da gente. 

Fiquei naquilo pensando
Inté o Natá chegá
E na Noite de Natá
Eu fui drumi mim lembrando
Acordei fiquei caçando
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Que de presente o que tinha
Era de mijo uma pocinha
Que eu mermo tinha botado

Saí c’a bixiga preta
Caçando os amigos meu
Quando eles mostraram a eu
Caminhão, carro e carreta
Bola, revólver, corneta
E trem elétrico, até
Boneca, máquina de pé
Mas num brinquei, só fiz vê
E resolvi escrevê
Uma carta a Papai Noé.
“Papai Noé, é pecado
Os outro se matratá
Mas eu vou le recramá
Um troço que tá errado
Que aos fio de deputado
Você dá tanto carrin
Mas você é muito ruim
Que lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Que num se lembra de mim.

Já tô certo que você
Só balança o povo seu
E um pobe qui nem eu
Você vê, faz qui num vê
E se você vê, porque
Na minha casa num vem?
O rancho que a gente tem
E pequeno mas le cabe
Será que você num sabe
Qui pobe é gente também?
Você de roupa encarnada,
Colorida, bonitinha
Nunca reparou que a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Prêu num chamá-lo de ruim
Para o ano faça assim:
Dê menos aos fio dos rico
De cada um tire um tico,
Traga um presente pra mim.

Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela
Moro naquela favela
Que você nunca foi lá
Mas quando você chegá
Que avistá uma paióça
Cuberta cum lona grossa
E dois buraco bem grande
Uma porta véia de frande
Pode batê que é a nossa.
* * *
FELIZ NATAL? – Dedé Monteiro
Tristes Natais de hoje em dia…
Pois “QUEM” aniversaria
Está na periferia
Ou a esmolar num sinal,
Enfrentando o preconceito,
O maltrato e o desrespeito,
Sem ter direito a Natal…
Por isso os Natais da gente
Precisam sair, urgente,
Atravessar o batente,
Andar por praças e guetos,
“Registrar” nome por nome,
Os CRISTOS que passam fome
Equilibrando esqueletos…
Aí, após “cadastrá-los”,
Ouvir seus ais, abraçá-los,
Tentar descrucificá-los,
Num gesto de amor profundo.
Depois, retomar a luta,
Na certeza absoluta
Do melhor Natal do mundo!!
* * *
MEU PAPAI NOEL DE CASA – Dedé Monteiro
Aos garotos desconhecidos deste velhinho
Os sinos tocam contentes.
Aí, Papai Noel sai,
Distribuindo presentes,
Como se fosse outro pai.
Durante essa missão sua,
Desce rua, sobe rua,
Sobe morro, morro desce…
Palmilha todo o terreno.
Só meu casebre pequeno,
Papai Noel desconhece.
É porque eu não conheço
Onde Papai Noel mora.
Senão, o meu endereço
Eu ia enviar-lhe agora.
Escrevia um bilhetinho,
Pra lhe contar direitinho,
Onde fica o meu chalé.
Se dizem que ele advinha,
Por que só minha casinha
Ele não sabe onde é?
Quer saber o que se dava
Se papai fosse um ricaço?
Papai Noel não errava
As grades do meu terraço.
Chegava fora de hora,
Rondava a casa por fora,
Pela chaminé descia
E, em silêncio e sorrindo,
Deixava um presente lindo,
Pegava o saco e saía.
Chaminé muito enfeitada,
Minha palhoça não tem.
Mas, duma lata amassada,
Papai fez uma também.
Mas, se o senhor entender
Que ela não vai lhe caber,
Eu deixo aberta a janela.
Aí, se o senhor cansar
E achar que não deve entrar,
Jogue o presente por ela.
Reclamando desse jeito,
Talvez, eu esteja errado.
Pois, meu mocambo foi feito
Num lugar muito atrasado.
Lá, Papai Noel não passa,
Porque nem tem luz, nem praça,
Nem parque de diversão…
Esse Papai Noel nobre,
Não liga menino pobre
Que vive de pés no chão.
Mas, papai que é mais humano,
Este ano me falou:
“Se Deus quiser, para o ano,
Seu Presente eu mesmo dou!”
Papai é papai de fato.
Não é papai de boato,
Como esse Noel que atrasa.
Meu papai é tão fiel,
Que não há Papai Noel
Como esse que eu tenho em casa!!!
* * *
DESEJO NATALINO –  Mundim do Vale
A pretensão deste verso
É de paz em cada lar,
É da criança estudar,
Para obter o sucesso.
Do mundo alcançar progresso
Num conceito da verdade,
Adotando a humanidade
Em benefício do povo.
E a vinda do Ano Novo
Seja de prosperidade.
Desejo nesse Natal
Muitas conciliações
Entre todas as nações
Em prol da paz mundial.
Que seja ampla e geral
Homologada em registro
Tendo o Papa dado um visto
Para ficar amparada,
Conforme a bíblia sagrada
E o que pregou Jesus Cristo.
Desejo que a vingança
Seja abolida da Terra
Que gente que faz a guerra
Se espelhe numa criança.
Que o Natal traga a lembrança
Da importância do perdão,
Do valor da oração
E dos caminhos da paz.
Que a gente seja capaz
De abrandar o coração.

TUDO NO UNIVERSO SE MOVE POR MÚSICA...

sábado, 26 de dezembro de 2015

CARLOS PENA FILHO....

Carlos Pena Filho
carlos.pena.filhO
E como estamos na época, fechemos a semana com Canção deste Natal, de Carlos Pena Filho:
“Procurou na terra
Procurou no ar
Procurou na guerra
E não soube achar.
Procurou no rio
Procurou no mar
No telégrafo sem fio
E outra vez no ar.
Muito velho e sábio
Foi que se lembrou
Dentro dele mesmo
Nunca procurou”.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

EM HOMENAGEM AO NATAL...

Um mote de Raymundo Asfora:
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor
menino jesus e o boi
Wellington Vicente:
João Batista há muito anunciava
Que o Messias chegaria radiante
Escalado na missão mais importante
Que aquela que João executava
E Maria nem sequer imaginava
Que seu ventre geraria O Redentor
São José, como pai foi o pastor
Que guiou pro Egito o pequenino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Dedé Monteiro:
Quando o santo milagre aconteceu, 
O silêncio-tensão da estrebaria 
Foi quebrado, naquela noite fria, 
Pelo “graças a Deus!” que José deu.
Uma estrela, cortando aquele breu,
Clareava o sorriso de uma “flor”!
E, ante as preces dos reis do exterior,
Que enganaram a Herodes – o assassino,
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Marcos Mairton:
Um carneiro, olhando, muito atento,
Uma cabra, que perto, descansava,
Uma vaca, que ao lado ruminava
O capim que engoliu como alimento.
O semblante tranquilo do jumento,
Uma estrela, três magos e um pastor,
Contemplavam o nosso Salvador
Começando na Terra o seu destino.
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Doddo Félix:
Esta história vem lá de muito além,
ocorreu na distante Galileia.
Quem a ouve talvez não faça ideia
da mensagem, da força que ela tem.
Fim de ano. A cidade de Belém
nem sonhava que em seu interior
haveria de, em breve, o Salvador
vir ao mundo, cumprindo seu destino.
Na frieza da gruta o Deus Menino
teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Paulo Moura:
Eram tempos difíceis pra José
Que levava, inocente, num jumento
Pra fugir da persiga e do tormento
Uma Santa, e Jesus de Nazaré
Sem vintém pra comer, sobrava fé
De uma estrela aplacar a sua dor
Noites frias, só tendo por calor
A fiel montaria e um bovino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor
* * *
Carlos Aires:
Desprovido de luxo e de riqueza
Já nasceu na maior simplicidade,
Pra lutar pela paz e a igualdade,
E ajudar aos que vivem na pobreza,
Teve a vida singela e com certeza,
O que tudo ele fez foi por amor,
Pra salvar o errante pecador,
Dar a vida na cruz foi seu destino,
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Fred Monteiro:
Uma estrela riscou o céu escuro
Trouxe a Luz onde trevas existia
E o Amor de José e de Maria
Floresceu num Infante belo e puro
Que deitado na palha de um monturo
Descansado do esforço peregrino
Foi saudado por Anjo em belo hino
Ecoando nos campos um louvor
Na frieza da Gruta o Deus-Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor
* * *
Cicero Cavalcanti:
Nadinha mereceu esse coitado
E a vida lhe chegou como castigo
Apanhou como um cão esse apenado
A nos livrou do mal, nosso inimigo.
E Até pra nascer foi desprezado,
Vindo à luz com seu pai agoniado
E tristonhos com tanto desatino,
De um Divino penar tamanha dor.
Na frieza da gruta o Deus menino
Teve um bafo de boi por cobertor
* * *
Alamir Longo:
Correu uma estrela no céu de Belém
Anunciando ao mundo que Jesus nascia
Numa manjedoura de uma estrebaria
Chegava o novo Rei da Humanidade
Para unir os povos na fraternidade
E fazer da fé seu maior clamor
Semeou para sempre a semente do amor
Desde que chegou o Filho do Divino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.
* * *
Marcos André:
Anunciado desde eras imemoriais
A vinda daquele ser divino
Promessa de alivio dos nossos Ais
Canção de esperança em forma de hino
Pra nos amparar do sofrimento e da dor
Em forma humana nasceu o Amor
Nas asas de um anjo celestino
Em que o frio da noite se fez calor
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

PARA DESCONTRAIR...


PEGADA NO FLAGRA...

Garota de programa foge ao descobrir que cliente é o seu marido

O caso, incomum e inusitado, aconteceu em Blumenau, interior de Santa Catarina. Uma mulher chamada Silvana Souza Sinara Silva, casada, querendo ganhar dinheiro rápido e fácil, decidiu se tornar garota de programa e publicou um anúncio no jornal com nome e celular diferente.

A primeira ligação que recebeu foi no horário em que seu marido estava trabalhando, o que ela considerou motivo de sorte, e então marcaram um encontro. O cliente marcou o encontro em um galpão abandonado e exigiu que a mulher entrasse no local seminua. 


Para surpresa e pavor da mulher, quando ela tirou parte da roupa e entrou no galpão percebeu que o cliente era seu marido que, ao reconhece-la, pegou um pedaço de ferro e foi pra cima dela.

Após correr muito e pular várias cercas, a mulher conseguiu escapar ilesa, mas admite que sempre foi “azarada”, uma vez ao tentar arrumar um amante através da internet, descobriu que o homem era seu pai. Definitivamente sorte não é seu ponto forte

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

CECÍLIA MEIRELES...


CANÇÃO – Cecília Meireles
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas…
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NO DIA QUE FIZ 56 ANOS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


EU CONHECÍ A GRANDEZA HUMANA, NÃO FOI ATRAVESSANDO OS OCEANOS PACÍFICO, ATLANTICO E ÍNDICO,FOI QUANDO EU ERA CRIANÇA E ADOECIA,E MINHA MÃE VINHA DE MADRUGADA , DE PÉS DESCALÇO,DE PONTA DE PÉS, ME BUSCAR PARA DORMIR NO SEU QUARTO...EXUPERY

MAMÀE, EU VIM POR MINHA MULHER...MAS, VOLTEI POR VOCE...EXUPERY

A MINHA MÃE foi uma jóia que eu tinha, e na juventude,julgava-a ser banhada a ouro...Depois veio o tempo,com a a sua tinta prateada,que me mudou a cor dos meus cabelos e amadureceu-me a alma,e revelou que a minha velha,era jóia única,de ouro puro, e tinha sida lapidada por um ourives chamado DEUS.
Somente hoje,aos 56 anos,tenho a justa capacidade de compreender de onde vim...e esta constatação é amadurecida e amplificada, a medida que a gente vive, conhece pessoas, atos e omissões...
A minha MÃE cultivava os valores da alma,que só se entendem com o coração e a iluminação que vem de DEUS...para mamãe tinha valor o talento,a caridade, a música, a poesia,o pobre,as letras...estas coisas que ela adorava eram reflexos de DEUS...cultivava flores, tinha jardims,tratava das roseiras com a s mãos, tocando-as, com medo de feri-las,escutava os animais e as flores..
respeitava a natureza, sem se dizer ecologista,tinha a alma ajoelhada para os necessitados,sem se dizer caridosa,virava a mesa abruptamente diante de uma injustiça...
Me ninava cantando Dorival Cayme,dizendo que é tão tarde , e a noite já vem,todos dormem lá no céu também, e os anjinhos foram se deitar, e que mamaezinha, precisa descansar...
Só assistia as missas de mantilha,tão grande era a sua referencia á casa de DEUS...Quando comungava fechava os olhos, eu não sei como ela conseguia voltar ao seu lugar,de olhos fechados...ela transfigurava quando recebia o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jeus Cristo...
A minha mãe tinha veneração pelos pobres...elegia a CARIDADE, como o sentimento mais nobre da existência...praticava-a diuturnamente....
Ainda hoje,reverbera nos meus ouvidos e me acorda a alma, os seus apelos pelos pobres...quando viajava para estudar,ela insistentemente dizia nas despedidas,MEU FILHO,PRIMEIRO OS POBRES...era apaixonada por Artur da Távola,delirava com as suas cronicas...recitava Guerra Junqueiro, e quando eu queria criar passarinho em gaiola ela dizia:MEU FILHO,PRENDER A ASA É ENCARCERAR O ESPÍRITO... A VIDA SÓ TEM SENTIDO SE ELA FOR LIVRE...E ASSIM SOLTAVA NO AMANHECER ,TODOS OS PASSARINHOS QUE EU GANHAVA, NA MINHA INFÂNCIA...surpreendia, ela conversando com pedintes,carroceiros,mulheres abandonadas pelos maridos,era um porto de alívio para os aflitos...era irmã deles, na hora dos seus sofrimentos, apesar de ser irmã de dois almirantes...tinha ódio de homem que maltratava mulher...ensinava que uma mulher maltratada, chutasse nos ovos do agressor...
Minha mãe era da UDN, seguia politicamente o tio querido, Dr Luiz Antonio Ferreira dos Santos Lima, o grande médico clínico de Natal, no passado...apostou em Jànio Quadros,achava que ele poderia acabar com as BANDALHEIRAS...
Foi a primeira professora de inglês de Nova Cruz...ainda criança , me ensinou a tocar violão,me ensinou dois tons:Lá menor e Lá Maior...e eu nunca mais deixei de tocar...Tocava no acordeon, diariamente,dois tangos:LA CUMPARSITA E LENCINHO BRANCO...também sofejava-os na boca, balançando a rede, para que eu adormecesse...Minha mãe era incapaz de derrubar uma árvore,de tratar mal á um pobre,de ficar calada diante de uma injustiça...ela ficava do lado do mais fraco...
Já aos oitenta anos, dizia comigo:benado celestino, bicho danado,gosta de tudo o que eu gosto:DE DEUS,DOS POBRES , DE MÚSICA E DE POESIA...é uma satisfação saber que ela me viu, como sua xerox ...ela renascia com o meu entardecer... tornava-se aurora com o meu ocaso... Parava para escutar um depoimento de tristeza, de uma PUTA da rua do Sapo, do cabaré de Nova Cruz...e neste instante, eu criança,presenciava a sua alma de joelhos...eu lia os seus sentimentos pelos seu olhos...tinha tempo para escutar todo mundo...eu me contagiei...eu fiquei assim,contaminado pela sua bondade.
POIS BEM, MAMÃE...tudo o que você falou, eu vivi, sinto e constatei... é verdade, O VELHO TINHA RAZÃO ...a única coisa que ainda posso fazer por você,e isto eu semeio toda semana, e já passou para milhares de corações:EU DIGO AOS ESTUDANTES DE MEDICINA,NA FORMA DE ATOS , GESTOS E AÇÕES, SEMPRE, ME LEMBRANDO DAS SUAS SÚPLICAS:PRIMEIRO OS POBRES... E SOLTO NAS SALAS DE AULAS, AS ESTRELAS , AS FLORES,E OS PÁSSAROS QUE VOCE ME DEU...

um beijo, e ate um dia...

Benado Teletino...
e agora, eu vou parar para chorar um pouco...


Post Scriptum:mamãe, hoje faz 56 anos que eu saí das suas entranhas
e era domingo...e era o dia das mães...talvez foi o maior dia das mães da sua vida...
A Cegonha lhe disse no Cine Eden,vá pra casa que eu tenho uma encomenda
que veio do céu...era eu, mãmãe,eu já nascí maquiado pelas tintas do seu coração...crescí no seu rabo de saia...era o seu companheiro...me lembro de tudo,a apartir de quando voce esfregava batata de purga nas minhas virilhas,quando me trocava os panos...era bom pra brotoeja...me lembro quando voce foi a Paraninfa da turma do jardim de infancia,me entrgou o diploma, e no seu discurso, disse a professora,Irmã Edite,no Ginásio Nossa senhora do Carmo:a senhora é uma jardineira...e hoje colhe as mais LINDAS FLORES QUE JÁ DESABROCHARAM EM SEU JARDIM...e voce dizia que eu era o seu FIM DE RAMA...saudades! saudades! ainda hoje, eu tomo lambedor de angico e cumarú, e cheiro Vick_Vaporub, que voce friccionava no meu peito,quando eu cansava...mas Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, mas ainda sonho...

sábado, 19 de dezembro de 2015

PABLO NERUDA...

Pablo Neruda
Pablo-Neruda
Encerrando semana tão insípida, nada menos que o capítulo XXIII da Manhã, de Neruda:
“Foi luz o fogo e pão a lua rancorosa,
O jasmim duplicou seu estrelado segredo,
E do terrível amor as suaves mãos puras
Deram paz a meus olhos e sol a meus sentidos.
Oh amor, como de repente, dos rasgos
Fizeste o edifício da doce firmeza,
Derrotaste as unhas malignas e zelosas
E hoje diante do mundo somos como uma só vida”.

EU SÓ QUERO É BEBER ÁGUA...MOACYR LUZ.




REFLEXÃO...

A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma. 
O resfriado escorre quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói.
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.
A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.
O câncer mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.
E as dores caladas? Como falam em nosso corpo?
A enfermidade não é má, ela avisa quando erramos a direção.
O caminho para a felicidade não é reto, existem curvas chamadas Equívocos.
Existem semáforos chamados Amigos.
Luzes de precaução chamadas Família.
Ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada Decisão.
Um potente motor chamado Amor.
Um bom seguro chamado FÉ.
Abundante combustível chamado Paciência.
Mas há um maravilhoso Condutor e solucionador chamado DEUS!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A FAMÍLIA REUNIDA PARA ESCUTAR AS NOVIDADES DO GOVERNO E DO SUPREMO:


O PÁSSARO CATIVO...



O Pássaro Cativo

          Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
             A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
             O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
             Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
             “Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
             Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
             Tenho frutos e flores,
             Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
             Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
             Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
             Quero voar! voar! ... “
Estas cousas o pássaro diria,
             Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
             Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
             A porta da prisão...
                                                         Olavo Bilac

NO DIA QUE RESOLVÍ FAZER UM BLOG: 12 DE DEZEMBRO DE 2009.POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL


NESTA DATA VOU OFERECER UM POUCO DA MINHA ALMA E DOS MEUS NEURÓNIOS A LITERATURA... PELO MEU PRÓPRIO PRAZER E PARA O PRAZER DE MUITA GENTE...

TRAGO NAS VEIAS A POESIA E A PROSA POÉTICA, ATAVICAS DENTRO DE MIM...

SOU NETO DE ANA LIMA, A POETISA DO ACU, E NASCI DE UMA MÃE QUE ERA SÓ POESIA..LIA PIMENTEL BEZERRA SOUTO.

QUANDO CRIANÇA, O MEU CATECISMO ERA O MELRO, POESIA DE GUERRA JUNQUEIRO, QUE MINHA MAMÃE REPETIA PARA QUE EU NUNCA APRISIONASSE PASSARINHOS... 

          OUTRA POESIA PARA ME EDUCAR ERA O PÁSSARO CATIVO...A CERTA ALTURA O PÁSSARO PRESO GRITAVA PARA O SEU ALGÓIS
CARCEREIRO:
              NÃO QUERO O SEU ALPISTE... ERA O MEU PRIMEIRO APRENDIZADO DO VALOR DA LIBERDADE...
               QUE DEUS ME ABENÇOE

PARECE UM CONTO DE TRANCOSO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


               As vezes o inimigo mora ao seu lado...as vezes o inimigo dormiu trinta anos na cama com você...é a vida.
               Nascí vendo imposto de renda ,sendo fiscalizado, com lápis comum e borracha...na era antes do computador.
Todos as minhas tias dispuseram de um emprego na receita federal,conseguidos pelo primo importante da época, Elias Souto,o primeiro dono do diário de Natal.Somente a minha mãe não aceitou, escolhera casar e morar EM NOVA CRUZ.
Carmem Celeste Pimentel era a pessoa que mais entendia de imposto de renda em Natal...uma mulher temida e anti propina...mas, no fundo, tinha prazer em orientar um contribuinte,evitando-o de multas, por pecados veniais.
               A casa de Carmem celeste era uma enchente, na época de fazer a declaração...Ela fiscalizava com lápis comum, e aplicava a multa nos sonegadores, exemplarmente.Lá podia-se encontrar o Desembargador Floriano cavalcante,Luiz Maranhão,Antonio Pinto,Dr Hélen Costa,o nosso querido médico de família.
Um tio torto meu, que também era fiscal,começou a emprestar dinheiro á juros,era agiota...condição incompatível com um cargo de fiscal da receita...Mas,o perigo morava ao lado.

Um Fiscal da receita,colega desafeto do fiscal agiota,talvez aplicando a lei que, vingança é um prato que se come frio,conseguiu uma promissória numa gaveta, que comprovava a agiotagem, e encaminhou um processo...Resultado,o Tio Torto foi liminarmente demitido, á bem do serviço público.

Triste de quem bate de frente com a vida...o tio torto demitido entrou em depressão,vivia acabrunhado,e perdera o seu salário...envelheceu vinte anos em cinco, assim como definhou.Muitas vezes, criança, ia com mamãe almoçar na sua casa, no domingo...mamãe se entristecia com a tristeza do cunhado.
No seu desespero, fez uma carta ao presidente da República, o GENERAL GEISEL...
a carta foi parar no quarto das cartas, que não seriam lidas pelo presidente, mas incineradas...
O BEDEL do palácio do planalto,estava apanhando as cartas num tapete, para leva-las pro fogo...o que era um ato rotineiro.Neste instante ele viu uma carta proveniente de Natal...sentou-se e abriu-a dizendo:o que será que este conterrâneo queria com o presidente? era a carta do tio torto...o bedel leu e disse:eu vou ajudar este homem do meu estado...este simples funcionário tinha transito em todas as reuniões presidenciais, pois servia o cafezinho e água, era bem querido...
Certa vez,numa reunião de Geisel com o ministro da fazenda,Mário Henrrique Simons,o Bedel, que era Novacruzense,e se chamava Marcelino,colocou a carta no bolso do ministro,e na sua insignificancia, pediu por ele...POIS BEM, este senhor por não saber que era impossível,tornou possivel, fez.
O Ministro disse, traga seu protegido para falar comigo tal dia...
Marcelino escreveu para o tio torto, que nunca tinha visto, dizendo que ele viesse a Brasília tal dia, que o ministro ia ouvi-lo...convidou-o para que ele fosse seu hóspede, na sua estadia em Brasília...
O TIO TORTO quase não acreditou, mas foi...resumindo:foi readmitido no serviço público, e recebeu todo o atrasado...ficou rico de novo.
Marcelino, segundo meu pai, tinha um caldo de cana em Nova Cruz, no tempo que DOM-DOM jogava no andaraí...e foi recompensado com um fusca zero quilometro...dado de coração...até então o bedel não tinha carro.

SOBRE PERFUMES...



CADA JOCA COM O SEU PERFUME


Festa da padroeira de Nazaré da Mata.

A cidade era toda rebuliço.

Roupas novas, matutos chegando da roça com os seus trajes de missa de Natal. Parque de diversões animando a garotada e a juventude. Jovens namorados trocando juras pelas esquinas e bancos de jardins. Cadeiras nas calçadas. Velhos relembrando os chamados “bons tempos” de outras festas semelhantes da mocidade.

Nazaré da Mata seria, no dizer do poeta, um “céu aberto”, “um paraíso terreal”, naquela noite em que se comemorava a festa de Nossa Senhora da Conceição, tal a movimentação que existia nas até então pacatas ruas.

As bandas de música Capa Bode e Revoltosa, com seus uniformes novos, sapatos engraxados, instrumentos reluzentes, marchavam garbosas pelas ruas, recebendo aplausos de seus aficcionados.

No coreto, bem em frente à matriz, Mestre Joquinha, da Revoltosa, reunia os seus músicos em mais uma grande retreta, para alegria de todo o povo nazareno, que tem em suas bandas as melhores expressões de sua cultura.

Porém, um perfume de forte e enjoado odor “incensava” o ambiente do coreto, de a Revoltosa deveria tocar.

Mas, parecia que havia sido derramado um tonel daqueles “extratos” só vendidos nas feiras do interior.

Músicos se interrogavam entre si – seria a brilhantina de um ou a loção do outro (?) – a pergunta pairava no ar e até alguns espectadores estavam a notar a movimentação.

Saindo da tranquilidade que lhe era peculiar, Mestre Joquinha iniciou a sua pesquisa entre os músicos da Revoltosa.

Finalmente, sentiu que tal “cheiro” era causado por Joca da Trompa, preto alto, magro, cabelo estirado à força de banha, barba feita, que tomara um verdadeiro banho de tal “extrato” para assim poder melhor se apresentar no dia da padroeira.

Perdendo a calma, fulo de raiva, incomodado com o tal perfume que tomava conta do ambiente e tirava a seriedade de toda a banda de música, com o acúmulo de brincadeiras por parte dos componentes, o Mestre Joquinha aproveitou o intervalo da retreta para passar um “rela” em Joca da Trompa.

Erguendo a batuta, esbravejando na ponta dos pés, o velho regente da Revoltosa disse o que quis e o que não queria dizer ao “perfumado” trompista.

Ouvindo tudo em silêncio, Joca esperou que o Mestre terminasse a sua preleção para lhe fazer uma pergunta que ficou famosa pelos anos que se seguiram.

Feito o silêncio, foi a vez de Joca interrogar o Mestre, diante dos demais músicos, na mais pura inocência de homem de poucas letras:

– “Ô mestre Joquinha?! Qua é a leis que improíbe o oroma da fulô?!”

Os músicos da Revoltosa caíram numa só gargalhada e o Mestre Joquinha morreu sem saber explicar o que parecia simples, no raciocínio de Joca da Trompa:

Cada flor com o seu aroma, cada Joca com o seu perfume…


LEONARDO DANTAS.

UMA FALÁCIA OU RACIOCÍNIO TENDENCIOSO...

PAULO BROSSARD

O eminente Paulo Brossard, autor do livro “O Impeachment“, foi invocado por ministros do Supremo Tribunal Federal, para rasgar os artigos da Constituição que regem o processo de impeachment.
Magda Brossard, filha de Paulo, enviou um texto indignado ao Antagonista.
Leiam, por favor:
“Hoje tenho um sentimento de tristeza e vergonha pelo que ouvi em sessão do tribunal que meu pai integrou de forma honrada e livre. Ele foi um homem livre para pensar – e para agir de acordo com sua consciência. Talvez isto o tenha feito tão extraordinário nos seus noventa anos de vida. Paulo Brossard passou pelos três Poderes, em momentos críticos e tumultuados, sem ter medo nem fazer concessões. A Lei foi sua bússola. Conheço seu pensamento, é incompreensível que tenha sido invocado e utilizado em sentido contrário às convicções que ele sempre manifestou, e que estão registradas em livro, artigos e votos. Ninguém está obrigado a concordar com as suas convicções, mas elas e sua memória devem ser preservadas. Não era preciso invocar lições de Paulo Brossard nos votos da maioria. Sei que ele teria discordado da decisão de hoje, se fosse vivo.”
Magda Brossard”
PB
Paulo Brossard de Souza Pinto (Out/1924 – Abr/201

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

LITERATURA DE CORDEL...

Cordel de Abraão Batista (Escrito em abril de 1985)
jbf1-qua16
Jovem fugindo da morte
A existência na terra
É mistério impensável
Nasce um, e morre outro
No sofrível ou insuportável
Uns sorrindo, outros cantando;
Uns da vida se lastimando
Por ser esta muito instável.
Uns sobem e descem a ladeira
Com rara naturalidade
Outros não querem aceitar
Da vida a realidade
Por isso, esses se estrepam
E as dores neles se trepam
Com toda a velocidade
E é justamente por isso
Que escrevo, eu dessa vez
Buscando a vida passada
Em território chinês;
Não sei se pra lá ou pra cá
Mas foi numa cidade Chambá
No ano um, dois ou três…
Nessa cidade Chambá
Existia um fazendeiro
Poderoso, bom e valente
Dono de muito dinheiro
Tinha gado e tinha terras
Sete açudes e duas serras
E por cima, hospitaleiro.
Esse fazendeiro possuía
Um excelente coração
Sua casa da fazenda
Era como a de Salomão
E o povo da redondeza,
Disse a minha certeza:
O queria como irmão.
Na fazenda ele tinha
No serviço um capataz
Que o atendia muito bem,
Um belo e moço rapaz
Com 18 anos de idade
Por isso até na cidade
Se espandia o seu cartaz.
Esse rapaz, do fazendeiro
É quem fazia todo recado
Na cidade de manhãzinha
Ele ia para o mercado
Comprar carne e verdura
Tempero e rapadura
Sem nunca mostrar enfado.
Numa manhã esse rapaz
No mercado, ele avistou
Num recanto de parede
Que quase se assombrou
A morte bem pensativa
Olhando-o radiativa…
E depressa se afastou.
Fugiu de perto, com medo
O nosso belo rapaz
Para a fazenda do patrão
Como um verdadeiro az
E dentro do casario
Ele ficou muito sombrio
O que não era contumaz.
No outro dia bem cedo
Ao mercado ele voltou
Para fazer o de costume,
As compras todas comprou
Mas lá estava num canto
A morte, com olhar de espanto
Que o pobre quase tombou.
Correndo fez suas compras
Se escondendo na multidão
do olhar faminto da morte
com olhar de escuridão,
pois novamente correu
e nunca mais se esqueceu
daquela horrível visão!
No outro dia o mesmo
Com o rapaz aconteceu…
Fez as compras depressa,
Para a fazenda correu
E em casa esse coitado
Ficou muito assombrado
Nem sequer água bebeu!
Os amigos vendo aquilo
Para ele lhe perguntaram
Mas o rapaz muito calado
Sua história se ignoravam;
Assim, ele foi definhando
Consigo se lastimando
Com os dias que lhes restavam.
No quarto dia, o patrão
Chegou pra ele e indagou,
Meu rapaz quero saber
Porque você se reservou
Anda triste, encabulado
Não come, anda invocado
Quem foi que o machucou?
Não é nada!… Disse o rapaz
Olhando para o patrão
O que? – Com a sua cara
Se vê que seu coração
Está triste, muito confuso
E dentro desse meu uso
Quero lhe dar a proteção.
O rapaz ainda quis
Esconder a realidade
Mas devido a insistência
Usou da sinceridade
E foi dizendo: meu patrão
Estou perdido! Não sei não…
– Vou embora dessa cidade!
Vou-me embora, porque
A morte quer me matar
Todo dia no mercado
Ela está a me esperar
E ainda não me matou
Porque ela não me pegou,
E caiu ele a chorar.
O patrão disse: não chore
Nós daremos um jeito nisso
– pegue o meu cavalo branco
Se apronte e dê sumiço
Desapareça da redondeza
Pois com muita esperteza
Quebramos dela o feitiço.
Desse jeito o rapaz fez:
Se aprontou sem dar demora
Pegou a roupa que pode
E saiu de mundo à fora
Com arroz, carne e farinha
Seis rapaduras, uma galinha
Sal, café e boa espora.
O rapaz na mesma hor4a
Por um atalho seguiu
No bom sentido contrário
O seu trajeto ele viu
Botou um pano no rosto
Pra ninguém ver o seu rosto
Foi o que se deduziu.
Sete dias e sete noites
Ele andou sem descançar;
Eu não sei como o cavalo
Ainda o podia carregar
Até que em cidade distante
Ele entrou triunfante
Pensando nela ficar.
Num hotel bem reservado
Confiante se hospedou
E num quarto da hospedaria
No último andar ele ficou;
Abriu a porta do quarto
Almoçou ficou bem farto
Fez sua cama e deitou.
Quando foi no outro dia
Que o sol apareceu
O rapaz abriu os olhos
E veja o que aconteceu:
A morte estava no quarto…
E o rapaz sentindo-se farto
Pulou da janela e morreu!
Da janela ele pulou
Se esparramando no chão
Daí a cinco minutos
Juntou grande multidão
Uns diziam – que mote feia!
Olhem ele está sem meia…
Estava na cama, o pobretão!
Por que um rapaz desse
Toma decisão dessa assim?
Alguém dizia – foi empurrado
Deve haver outro Caim!
Chamem logo o delegado
E vamos ver se o finado
É honesto ou é ruim.
O delegado chegou logo
Fez o seu levantamento
Levou o corpo pro necrotério
Fez autópsia com instrumento
E disse: não foi matado
Mandou logo um recado
Para a cidade de nascimento.
Mandou um polícia avisar
Na fazenda do ex-patrão
Que o rapaz tinha morrido
Estatelado no chão
E quando o soldado chegou
Direito ele avisou
Com observável emoção.
O patrão, com a notícia
Logo a morte procurou
Onde ela fazia ponto
E para ela lhe perguntou –
Por que matou o meu rapaz?
Você é filho do satanaz!
Sorrindo, a morte falou:
Cale a boca ó meu senhor
Você não sabe de nada
O patrão disse: eu não mandei
Que ele fosse pela estrada?
Será que você adivinhou
Onde meu rapaz se hospedou?!
E a morte deu uma risada…
Ele não disse a você
Que eu estava pensativa
Olhando fixa pra ele
Muito séria e radiativa?
Pois bem, eu estava pensando
Como levá-lo daqui, tramando
Para a cidade primitiva.
Pois é – naquela cidade
É que eu queria o encontrar
E somente naquele local
É que eu podia o matar!
Pois ninguém foge da morte
E nem traça a própria sorte
E nem bebe água do mar.