sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ADOTAR E DESADOTAR...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.




              A MINHA MÃE tinha ódio de quem colocava seus entes queridos velhos em abrigo, se posicionava, se metia...e dizia-nos, se quando eu envelhecer me colocarem num abrigo, eu venho apertar o pescoço de quem me botou, quando eu morrer...

              Esta semana vi um depoimento interessante: a jornalista perguntava a uma mãe que adotara um filho, se existia uma relação de amor, ao se adotar um ser que não possui genes semelhantes...a jovem senhora respondeu:
               Este sentimento que a senhora procura não vem da genética do filho adotado, não está no DNA...este sentimento nasce de outro paradigma...quem tem a consciência de adotar um filho, se apaixona pelo adotado da mesma forma que se apaixonaria por um filho que tivesse o seu material genético...este amor é outra grandeza...vem de outra dimensão...o amor é semelhante entre mãe e filho, sempre, intrínseco,sublime,ímpar...

               Fico constrangido quando vou a um abrigo de velhos e presencio a solidão e a tristeza, o isolamento de muitas pessoas que eu conheci na minha infância, na minha juventude...Verdadeiras rainhas, senhoras, soberanas, idolatradas pelos seus maridos, mas infelizmente a idade as tornou tão pequenas, que se tornaram grandes demais para conviver com os seus filhos...os seus filhos a desadotaram...é um desamor...é o outro extremo de quem adota...
               A DESADOTAÇÃO É JUSTIFICADA POR MIL MOTIVOS IMPROCEDENTES:NÃO, EU ESTOU Pagando muito caro...lá ela é bem mais cuidada...
               Reputo este ato como um assassinato...é o cúmulo da frieza...da ingratidão...da tentativa de dar lógica a um absurdo....
               O Contato do idoso com o seu ente querido, espiritual e físico é algo insubstituível, e as desculpas fajutas dos familiares voam no mesmo plano da ruindade, da frieza,do assassinato...
               Num abrigo, cada velhinho é um estranho no ninho...deprimidos...pensativos...solitários...anérgicos diante da crueldade...pessoas que os seus amores lhe mataram em vida...morte lenta...homeopática...humilhante...e a pior morte é aquela que ainda nos deixa vivo...
               Neste capítulo quero elogiar a minha esposa, Gracinha Miranda,que tomou conta de sua mãe oito anos doente e acamada, Dona Noeme Abdon...
               A Velha morreu com 90 anos  na nossa casa...não possuía nem uma escara...nem uma ferida...
a higiene era feita pessoalmente pela filha, que nunca deixou de usar protetores de pele na mãe...
               Sempre falamos que a família é a cosa mais importante da nossa vida...será que a velhice tira esta importância?
              Será que a importância está somente na utilidade, na juventude,na disposição?
               A velhice transforma  quem foi querido num estorvo, num câncer, num tumor?
               Entrei em um abrigo e vi a tristeza e a vergonha de uma conhecida, que já foi soberana,adorada pelo esposo, rainha do Lar...cumprimentei-a e bebi da sua tristeza...do seu pavor...e ao sair, notei que ela quis aproveitar a porta aberta para escapulir...fugir...fiquei triste e me lembrei do que minha mãe tinha pavor: o abandono da velhice...
               Saí triste e relembrando Vinícius de Moraes:
               FILHOS, É MELHOR NÃO TÊ-LOS...MAS SE NÃO TÊ-LOS, COMO SABÊ-LOS?
               Depois, voltei a mamãe:
               Gaiola de ouro não dá comida a passarinho... 

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