segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A LITERATURA DE VIOLANTE PIMENTEL...


“BREJEIRA”


Diz o folclore norte-rio-grandense, que a palavra “brejeira”, caracterizando fraude eleitoral, surgiu numa eleição no município de São José de Campestre (RN). O saudoso Deputado Djalma Marinho fora chamado, para orientar o delegado do Partido, numa ocorrência, durante a contagem de votos. Ao subir os batentes do prédio da prefeitura, onde se realizava a apuração, cumprimentou um matuto que se encontrava sentado na entrada, fumando um cigarro de palha, e perguntou:
– O que está acontecendo aqui?
O matuto respondeu:
– “Doutô”, estão dizendo que fizeram “brejeira”…
A expressão nativa, “brejeira”, agradou ao Deputado Djalma Marinho e ficou sendo usada por ele, por brincadeira, como sinônimo de fraude eleitoral. Logo caiu na boca do povo e tornou-se conhecida. “Brejeira”, portanto, no folclore da política norte-rio-grandense, significa fraude eleitoral.
Há várias décadas, nas antigas eleições do Rio Grande do Norte, era comum o desaparecimento de urnas, após o encerramento da votação. Pessoas de alto gabarito intelectual eram conhecidas como useiras e vezeiras, nesse tipo de fraude, principalmente nas cidades do interior.
Nessa época, o sistema eleitoral era precário e facilmente manipulado. Os fazendeiros ricos e cabos eleitorais compravam votos abertamente, ou os negociavam em troca de bens materiais, como dentaduras, óculos, pares de sapatos, cortes de tecidos, ou alimentos. Os “coronéis” alteravam votos, e falsificavam títulos de eleitor, para que seus eleitores pudessem votar várias vezes, em várias seções, até mesmo com títulos de pessoas falecidas.
Um conhecido político, e grande latifundiário de Natal, era apontado como o mentor de fraudes eleitorais homéricas. Semianalfabeto, o homem era dono de um raciocínio rápido e maquiavélico. Dominava seu reduto eleitoral e seu apoio garantia a vitória de qualquer candidato. Seus adversários o acusavam de fazer fraudes nas votações e nos mapas eleitorais, conseguindo falsificar o resultado das urnas. Mas isso não resultava em nada. Esse político tinha prestígio no Estado e também no âmbito federal. Liderava um grupo sem escrúpulo, acostumado a fazer campanha política, eleição e apuração. Nessa época, não se falava em institutos de pesquisa, nem em marqueteiros.
O medo das “brejeiras” se espalhava entre as lideranças políticas da capital e do interior, tanto no partido da situação, como da oposição.
Entretanto, o advento das urnas eletrônicas tornou as fraudes eleitorais, aparentemente, impraticáveis.
A partir de 1996, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciou a implantação do voto eletrônico no país, utilizando a urna eletrônica, integrada a um sistema informatizado. Desde então, o TSE vem aprimorando essa tecnologia, e em 2008 implantou a urna eletrônica, com reconhecimento biométrico das digitais do eleitor.
A implantação do voto eletrônico veio dificultar as antigas fraudes eleitorais. Também, pôs fim aos votos de protesto, com desaforos e palavrões, ou ainda em favor de conhecidos animais, como foi o caso do Macaco Tião e do Rinoceronte Cacareco.
Inúmeras fraudes eleitorais foram cometidas no Rio Grande do Norte, nas antigas eleições. Um dos casos mais gritantes e hilários ocorreu com um candidato a deputado estadual, que aguardou com ansiedade a apuração, e constatou que a urna em que ele depositara seu voto não fora apurada. Simplesmente, a urna “sumiu”. Ele não teve nem o seu próprio voto, na seção em que votou.
Decepcionado, o candidato derrotado encheu a cara de cachaça e chorou copiosamente numa mesa de bar, depois da apuração. Sua lamentação causava pena:
– Que meu sogro e minha sogra não tenham votado em mim, eu aceito;
– Que meus irmãos e cunhados não tenham votado em mim, eu aceito;
– Que minha mulher não tenha votado em mim, é duro, mas eu também aceito……
– Mas, EU?!!! Eu mesmo não ter votado em mim?!!! Isso, eu morro e não aceito!!!

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