segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A POESIA DE CECÍLIA MEIRELES...


MINHA MÃE, LIA PIMENTEL E A IRMÃ: TIA DÚ

VELHO ESTILO

Cecília Meireles

Corpo Mártir, conheço o teu mérito obscuro:
tu soubeste ficar imóvel como o firmamento,
para deixar passar as estrelas do espírito,
ardendo no seu fogo e voando no seu vento...
Corpo mártir que és dor, que és transe, que és silêncio,
e onde, obediente, vai batendo o coração,
que foste esquecido quando um dia te acabares,
não é por ti que os olhos chorarão.
Ninguém viu que tu foste o solo e o oceano dócil
que sustentou jardins e embalou tanta viagem,
que distribuiu o amor e mostrou a beleza,
dando e buscando sempre a sua própria imagem.
Um dia tu serás símbolo, ideia, sonho,
tudo o que agora eu compreendo que és:
porque um dia virá que, nesta marcha do infinito,
ninguém se lembrará que o mais alto dos cânticos
pousou na terra, sobre uns pobres pés.

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