POR FERNANDO ANTONIO GONÇALVES...
Minha avó Zefinha, que mal assinava o nome mas tinha uma inteligência privilegiada, dizia sempre, quando acontecia algum ti-ti-ti na família: “Vamos terminar com o pantim e colocar os pontos nos ii”. Uma advertência que jamais esqueci, desde rapazinho.
Na abdicação de Bento XVI, quem está pondo os pontos nos ii é o próprio pontíficie, quando disse, em sua primeira aparição depois do anúncio da renúncia, na Missa da Quarta-feira de Cinzas, que a hipocrisia religiosa estava desfigurando a Igreja e instrumentalizando Deus, na obtenção de prestígio pessoal e poder. Tudo indicando que o ainda papa não estaria mais suportando a fuxicaria e a corrupção que o teriam isolado do resto dos mafiosos corredores. E o papa ainda reforçou, na sua homilia, as críticas contra a hipocrisia reinante, quando recordou que Jesus já denunciava “a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, as relações que buscam o aplauso e a aprovação”.
Segundo Saul Leblon, da Carta Maior, os ingredientes principais – dinheiro, poder, sabotagens, corrupção, espionagem e escândalos sexuais – estavam corroendo o Vaticano há décadas, “a presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhando notável regularidade nos últimos tempos”. E interpretou com maestria a jogada de toalha do papa alemão: “Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o ‘habemus papam’ refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica. Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira. A verdade é que a direita formada pelos grupos ‘Opus Dei’ (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), ‘Legionários’ e ‘Comunhão e Libertação’ (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado o fim do seu papado nos bastidores do Vaticano. Sua desistência oficializa a entrega de um comando que já não dispunha. Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha. O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições. Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.”
Segundo Saul Leblon, da Carta Maior, os ingredientes principais – dinheiro, poder, sabotagens, corrupção, espionagem e escândalos sexuais – estavam corroendo o Vaticano há décadas, “a presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhando notável regularidade nos últimos tempos”. E interpretou com maestria a jogada de toalha do papa alemão: “Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o ‘habemus papam’ refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica. Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira. A verdade é que a direita formada pelos grupos ‘Opus Dei’ (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), ‘Legionários’ e ‘Comunhão e Libertação’ (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado o fim do seu papado nos bastidores do Vaticano. Sua desistência oficializa a entrega de um comando que já não dispunha. Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha. O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições. Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.”
Complementa o jornalista Saul Leblon: “Em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou. Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também). Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer. Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora. O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.”
Oportunisticamente, Joseph Ratzinger escolheu os degraus da direita nunca reformista para galgar o poder interno do Vaticano. Ele foi, no comando da famigerada Congregação para a Doutrina da Fé, sucedâneo da cretiníssima Santa Inquisição, responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação, advertindo, punindo, desautorizando e interditando os textos do teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados do país.
A reflexão é de Leonardo Boff: “Uma coisa é o Ratzinger professor e acadêmico, que era extremamente gentil e inteligente, além de amigo dos estudantes. Dava metade do salário aos estudantes latinos e da África. Outra coisa é o Bento XVI, que exerce função autoritária e centralizadora, sem misericórdia com homossexuais e [adeptos da] camisinha“. Segundo ainda Boff, quando Ratzinger ainda era cardeal, “ele pedia aos bispos que impedissem que padres pedófilos fossem levados aos tribunais civis. Na medida em que a imprensa mostrou que havia não apenas padres, mas também bispos e cardeais suspeitos dessa prática, o Vaticano teve de aceitar a realidade. Ratzinger carrega essa marca de, quando cardeal, ter sido cúmplice desses crimes“.
Oportunisticamente, Joseph Ratzinger escolheu os degraus da direita nunca reformista para galgar o poder interno do Vaticano. Ele foi, no comando da famigerada Congregação para a Doutrina da Fé, sucedâneo da cretiníssima Santa Inquisição, responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação, advertindo, punindo, desautorizando e interditando os textos do teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados do país.
A reflexão é de Leonardo Boff: “Uma coisa é o Ratzinger professor e acadêmico, que era extremamente gentil e inteligente, além de amigo dos estudantes. Dava metade do salário aos estudantes latinos e da África. Outra coisa é o Bento XVI, que exerce função autoritária e centralizadora, sem misericórdia com homossexuais e [adeptos da] camisinha“. Segundo ainda Boff, quando Ratzinger ainda era cardeal, “ele pedia aos bispos que impedissem que padres pedófilos fossem levados aos tribunais civis. Na medida em que a imprensa mostrou que havia não apenas padres, mas também bispos e cardeais suspeitos dessa prática, o Vaticano teve de aceitar a realidade. Ratzinger carrega essa marca de, quando cardeal, ter sido cúmplice desses crimes“.
Boff disse não ter recebido com surpresa a notícia de que o Papa Bento deixará o posto: “Recebo com naturalidade essa notícia. Essa decisão segue sua natureza objetiva. Não é praxe um papa renunciar. Ele desmistificou a figura dos papas, que geralmente ficam [no cargo] até morrer. Provavelmente por entender o papado como um serviço. Essa atitude merece toda admiração e respeito. Esperamos, agora, que até a Páscoa, em meados de março, elejam um novo papa. De preferência um papa mais aberto. Até porque 52% dos católicos vivem no terceiro mundo e não mais na Europa“.
Lá do alto, a minha avó Zefinha deve estar piedosamente caçoando com as caras dos fingidos e amacacados, leigos e religiosos, que não esperavam do papa Bento XVI a coragem de rasgar a fantasia e desmascarar a história simplória de renúncia por apenas saúde frágil. No final de vida, o erudito alemão não desejar deixar para a História a marca da covardia, muito pelo contrário. Erudito e conservador eurocêntrico, sim. Covarde, jamais!
O livro Sua Santidade – As Cartas Secretas de Bento XVI, do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, RJ, editora Leya, 2012, pode esclarecer as razões da renúncia, explicitando as disputas internas e a precariedade cotidiana da Igreja. No centro da tormenta, “a corrupção, a prevaricação e má gestão” na administração vaticana. Numa das primeiras páginas, diz o autor do livro: “As rupturas estão se consumando dentro da Cúria Romana, na comunidade dos purpurados, que desde o último consistório está a cada vez mais dilacerada, atormentando Joseph Ratzinger.”
Estamos em tempo de novas Reformas!! Em todas as igrejas! Sem farolismos, nem babaquices, tampouco fingimentos farisaicos metidos a fraternais!!
A verdade liberta, já apregoava São João!! E o cardeal Bertone que se cuide!
Nenhum comentário:
Postar um comentário