quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PARA A HISTÓRIA DO HOSPITAL DAS CLINICAS DO RN...



Ciro José Tavares.

No velho hospital de Petrópolis a dramaticidade dos acontecimentos vinha inesperadamente. A partir dos anos 40 as dificuldades foram sendo ajustadas, muito embora as indiferenças entre colegas permanecessem. Luis Antônio e Tavares continuavam afastados de Januário e seguiam atendendo na Policlínica do Alecrim aos humildes pacientes. No Miguel Couto somente os clientes particulares. Graças ao gesto de Luís Antônio, que ainda rompido procurara o diretor para defender os direitos de Manoel Vitorino, esse, mesmo agradecido, não tinha aproximação com Tavares e com seu defensor. O longo afastamento acabaria em razão da gravidade de um fato que surpreendeu a todos e criou um clima de tensão inusitado.
O centro cirúrgico do hospital tinha duas salas de operações. Tavares, auxiliado por José Valério Cavalcanti, operava na sala A, que era a da sua preferência, quando a irmã Inês Minelli, a responsável pelas atividades do setor, abordou o cirurgião. Ela tinha conhecimento das indiferenças entre os médicos. O semblante preocupado chamou a atenção de Valério, do anestesista e da instrumentadora. Tavares parou os procedimentos para ouvi-la. Ela cheia de coragem revelou que Manoel Vitorino, demonstrando grande nervosismo, estava na antessala querendo falar com ele a todo custo. Apesar das ponderações da freira, a insistência era frase após frase, cada vez maior. O receio de Tavares e de seus companheiros do delicado ato médico era o de que Vitorino quisesse aproveitar aquele momento para afrontar seu desafeto. Sem temer consequências, retornou à irmã Inês negando-se atendê-lo. Não adiantou. Vitorino, usando sua prerrogativa de médico abriu a porta da sala e entrou. Era um homem vencido e falou a principio, gaguejando, para suplicar em seguida: Tavares salve meu filho!
O rapaz entrara pela emergência com dores no abdômen e o plantonista não chegara a nenhum diagnóstico, mas recomendou que fosse imediatamente transferido par o centro cirúrgico. A enfermagem fez a remoção e ele foi colocado na disponível sala B. Vitorino procurou Tavares na sala dos médicos e outros locais até saber que ele estava numa cirurgia. Tavares ficou sensibilizado com o pedido daquele pai, que diante do perigo substituíra a arrogância pela humildade. Imediatamente pediu a José Valério que acabasse de fechar e, em seguida, fosse ele, o anestesista e a e a instrumentadora ajudá-lo no outro caso. Naquele instante a inimizade estava fora de propósito, estando em jogo uma vida humana e o juramento hipocrático falando mais forte. E tudo terminou bem. Emocionado Vitorino agradeceu ao colega, pediu desculpas pelos desentendimentos passados, e cumprimentaram-se amigavelmente. Daquela data em diante, Tavares poderia voltar a receber a visita da Cândida, filha de Vitorino e que era sua afilhada de batismo. Candinha, como lhe chamavam, casou com Breno Capistrano. Nos anos de chumbo, Breno exilou-se em Cuba e Candinha viu-se na contingência de acompanhá-lo. Quando ela voltou ao Brasil, separada de Breno, seus pais haviam morrido e ela viveu modestamente em Natal, no espaço espiritual e pensionato mantido por Valdemar Matoso, na Rua Apodi. Foi onde fui encontrá-la a pedido do meu pai para dizer dos direitos que tinha como esposa de um exilado político. Coloquei-me à sua disposição, mas ela silenciou talvez não querendo reabrir antigas feridas. Pouco tempo depois soube que ela partira na direção das estrelas.

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