JOSÉ ASUNCIÓN SILVA
(1865-1896)
Em Paris, onde residia, Asunción Silva
conheceu Oscar Wilde e entrou em
contato com os simbolistas franceses e
as idéias de Schopenhauer. Sua obra
trouxe formas muito originais ao
modernismo e deu às formas e metros
clássicos uma renovada sonoridade.
Suicidou-se aos 31 anos de idade
devido a sérios problemas
econômicos. Obra: Poesías (Paris, 1883
/ Bogotá, 1896) TEXTO EM PORTUGUÊS
conheceu Oscar Wilde e entrou em
contato com os simbolistas franceses e
as idéias de Schopenhauer. Sua obra
trouxe formas muito originais ao
modernismo e deu às formas e metros
clássicos uma renovada sonoridade.
Suicidou-se aos 31 anos de idade
devido a sérios problemas
econômicos. Obra: Poesías (Paris, 1883
/ Bogotá, 1896) TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de Fernando Mendes Viana
NOTURNO III
Uma noite,
Uma noite toda cheia de perfumes,
de murmúrios e de músicas de asas,
Uma noite
Na qual ardiam na sombra nupcial e
úmida as lucíolas fantásticas,
A meu lado, lentamente, contra mim
cingida, toda
Muda e pálida,
Como se um pressentimento de am
arguras infinitas,
Até o fundo mais secreto das fibras
te
agitasse,
Pela senda que atravessa a planície
flor
escida
Caminhavas,
E a lua cheia
Nos céus azulados, infinitos e pro
fundos esparzia a luz branca,
E tua sombra
Fina e lânguida,
E minha sombra
Pelos raios da lua projetada
Sobre umas areias tristes
Do caminho se juntavam;
E eram uma,
E eram uma,
E eram uma única sombra longa!
E eram uma única sombra longa!
Esta noite
Eu só, a alma
Repleta das infinitas amarguras e ag
onias de tua morte,
De ti tão separado pela sombra,
pelo
te
mpo e a distância,
Por um infinito negro
Onde a nossa voz não chega,
Só e mudo
Pela senda caminhava...
E se ouviam os latidos dos cachorros
par
a a lua,
A lua pálida
E o coaxar
De rãs e sapos...
Senti frio. Era o frio que tinham na
alcova
Tuas faces, tuas fontes e tuas mãos
adoradas
Entre as tão níveas brancuras
Das cobertas mortuárias!
Era o frio do sepulcro, era o frio da
morte,
Era esse frio do nada... Minha
sombra,
Pelos raios da lua projetada,
Ia só,
Ia só,
Ia só pela estepe solitária!
E tua sombra esbelta e ágil,
Fina e lânguida,
Como nessa noite morna de uma
morta primavera,
Como nessa noite cheia de
perfumes,
de murmúrios
E de músicas de asas,
Acercou-se e foi com ela,
Acercou-se e foi com ela,
Acercou-se e foi com ela... Oh, as so
mbras enlaçadas!
Oh, as sombras que se buscam e se
juntam pelas noites de negruras e
de
lágrimas!...
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