segunda-feira, 16 de junho de 2014

POETAS DO MUNDO...


JOSÉ ASUNCIÓN SILVA

(1865-1896)



Em Paris, onde residia, Asunción Silva 


conheceu Oscar Wilde e entrou em 

contato com os simbolistas franceses e 

as idéias de Schopenhauer. Sua obra 

trouxe formas muito originais ao 

modernismo e deu às formas e metros 

clássicos uma renovada sonoridade. 

Suicidou-se aos 31 anos de idade 

devido a sérios problemas 

econômicos. Obra: Poesías (Paris, 1883 

/ Bogotá, 1896) TEXTO EM PORTUGUÊS


Tradução de Fernando Mendes Viana


NOTURNO III

Uma noite,


Uma noite toda cheia de perfumes, 

de murmúrios e de músicas de asas,

Uma noite

Na qual ardiam na sombra nupcial e 


úmida as lucíolas fantásticas,

A meu lado, lentamente, contra mim 


cingida, toda


Muda e pálida,

Como se um pressentimento de am


arguras infinitas,

Até o fundo mais secreto das fibras 

te 

agitasse,

Pela senda que atravessa a planície 

flor

escida

Caminhavas,


E a lua cheia

Nos céus azulados, infinitos e pro

fundos esparzia a luz branca,

E tua sombra


Fina e lânguida,

E minha sombra


Pelos raios da lua projetada

Sobre umas areias tristes


Do caminho se juntavam;

E eram uma,


E eram uma,

E eram uma única sombra longa!


E eram uma única sombra longa!

Esta noite


Eu só, a alma

Repleta das infinitas amarguras e ag


onias de tua morte,

De ti tão separado pela sombra, 

pelo 

te

mpo e a distância,

Por um infinito negro


Onde a nossa voz não chega,

Só e mudo


Pela senda caminhava...

E se ouviam os latidos dos cachorros 

par

a a lua,

A lua pálida

E o coaxar

De rãs e sapos...


Senti frio. Era o frio que tinham na 

alcova


Tuas faces, tuas fontes e tuas mãos 

adoradas


Entre as tão níveas brancuras

Das cobertas mortuárias!


Era o frio do sepulcro, era o frio da 

morte,


Era esse frio do nada... Minha 

sombra,


Pelos raios da lua projetada,

Ia só,


Ia só,

Ia só pela estepe solitária!


E tua sombra esbelta e ágil,

Fina e lânguida,


Como nessa noite morna de uma 

morta primavera,

Como nessa noite cheia de 

perfumes, 

de murmúrios


E de músicas de asas,

Acercou-se e foi com ela,

Acercou-se e foi com ela,

Acercou-se e foi com ela... Oh, as so

mbras enlaçadas!

Oh, as sombras que se buscam e se 

juntam pelas noites de negruras e 

de 

lágrimas!...
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