sábado, 3 de dezembro de 2016

A VOZ DO POVO...


Um folheto de Tárcio Costa
ENTRE A CRUZ E A ESPADA
Já é sabido por todos
Que cabra raparigueiro
Pra poder fazer folia
Não economiza dinheiro
Gasta tudo em regalias
Desfrutadas no puteiro
Também é fato certeiro
Que há quem critique o excesso
Na contra mão do pecado
O crente impõe seu processo
Ganhando até importância
Na bancada do congresso
Seja ordem e progresso
Ou anarquia geral
Sempre haverá a disputa
Do chamado bem e o mal
Eis um exemplo ocorrido
Na velha praça central
Onde o culto matinal
De um pastor protestante
Chamava grande atenção
Pelo discurso constante
Na luta contra a luxúria
E quem fosse praticante
Pois eis que no mesmo instante
De um banco da mesma praça
Um sujeito conhecido
Por gostar de fazer graça
Sob o efeito delirante
De alguns litros de cachaça
Com gracejos por pirraça
Mostra a bunda faz careta
E arrancando do colete
Uma velha caderneta
Grita ao povo: _Eis aqui
O livrinho do capeta
Diante dessa faceta
E com a bíblia na mão
O homem religioso
Interrompe seu sermão
Dirigindo-se ao bêbado
Com seguinte afirmação:
– Não ouse meu pobre irmão
A tamanho atrevimento
Sua atitude é reprovável
Desde do antigo testamento
Contra a palavra de Deus
Não existe argumento!
Mas o cabra xexelento
Descabelado e capenga
Diz ao nobre pregador:
– Deixe já de lenga lenga
Seu livro é escrito por homem
E o meu escrito por quenga!
O pastor vê no molenga
A encarnação do diabo
Sentia o cheiro de enxofre
E até já via o rabo
Era mesmo seu rival
Mais liso do que quiabo
Com a intenção de dar cabo
Da prosa do pecador
Erguendo a bíblia no alto
Rebate o sábio pastor:
– Achas mesmo meu amigo
Que és melhor do que o Senhor?
– Veja lá faça o favor!
Disse o malandro em cena:
– Quando o vejo lá na cruz
Juro que até sinto pena
Mas confesso gostar mais
Das Maria Madalena!
A praça virou arena
Tal como rinha de galo
Os dois partiram pra briga
Sem direito a intervalo
É quando as nuvens se abrem
E do céu vem um estalo
E ouçam bem o que falo
Um raio cai no safado
Que se ajoelha no chão
Com olhar apavorado
E de mãos juntas começa
Assumir o seu pecado
E disse o mal acabado:
– Perdoe-me nosso senhor
Tudo que disse é blasfêmia
Eu sou mesmo um pecador
E o povo grita:  – Milagre!
Aplaudindo o bom pastor
Em meio ao grande louvor
Sentado numa banqueta
O convertido revela
O escrito da caderneta
Disse todo arrependido
Sem fazer qualquer graceta
Que tinha amante ninfeta
E até moleque travesso
Comia as velhas no fim
E as novinhas no começo
E que tinha no caderno
Telefone e endereço
E ouvia com muito apreço
O pastor atencioso
Enquanto o ex-renegado
Discursava orgulhoso
Dando ainda mais detalhes
Do mundo pecaminoso
Disse ser libidinoso
Movido a álcool e engov
Beijava as de vinte um
Cheirava as de dezenove
Em casa fazia amor
Na zona fazia Love…
Disse ainda: – Que não prove
Do fogo da mulher dama
O cabra que não quiser
Ter o coração em chama!
Falou até do remédio
Que erguia o pé de cama
Findou dizendo: – Deus me ama
Livrou-me da perdição
E pra ser um novo homem
Eu de tudo abre mão!
Foi assim o testemunho
Do novo bom cidadão
Mas surpresa foi então
O pastor saltar de lado
Arrancando o livreto
Da mão do regenerado
Babando lambendo os beiços
Com uma cara de tarado
Sair correndo apressado
Abandonando o ofício
Gritando pela cidade
Armando aquele estrupício
Direto por velho bairro
Da zona do meretrício
Abriu mão do sacrifício
Largando a bíblia no chão
E mesma ficou de posse
Do antes dito vilão
Que desde o acontecido
É pastor de profissão
Se há uma conclusão
É de que há sempre a esperança
Pro sujeito vida torta
Deixar o mal na lembrança
E há também quem desvirtue
Pra equilibrar a balança.

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