PASSEIO NO MUNDO DOS PRESENTES...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

          ONTEM, pela primeira vez, tive um grande prazer na vida...um prazer inusitado:
          peguei na mão do meu primeiro neto e passeamos nos corredores de Midway...que delícia...que sensação da continuação do eu...a certeza que , depois de mim  eu vou estar presente...
          Lembrei do meu pai, que nunca passeou comigo criança, em um Shopping, em uma loja...outros tempos, outros hábitos: meu pai não comprava nada que não fosse o básico e essencial...era um homem da realidade, sem compulsão, sem fantasias.
          Mandei Breninho escolher numa Loja de Presentes Infantis, o que ele quisesse...sugeri uma moto, um carro, um carro de bombeiros...
          De coração, ele escolheu o menor brinquedo da loja: um bicho de pelúcia,um cachorro...segurou-o e não soltou-o mais....feliz! feliz!
          Este seu gesto me levou ao código genético e eu me lembrei de mim, que adoro cachorros,de mamãe que amava os gatos angorás, de Adriano, meu irmão, que adora cães,e de meu avô, o Professor Celestino Pimentel que vivia repetindo: Uma criança que maltrata animais tem indícios de mau caráter...
          Breninho adora os animais, pede para a gente repetir a linguagem onomatopaica dos bichos:O  cachorro au, au...o boi mom...o carneiro bé...
          No final levou o cachorro e eu comprei um boliche...mas o sucesso mesmo foi a sua admiração pela beleza e os detalhes do cão...
          Nunca , quando criança,pude escolher numa loja o que eu quisesse....
          Se compra por compulsão, e esta é acentuada nos poetas, e ausente no homem racional, metódico, que eu chamaria de monótono...
          Os Poetas são diferentes...são homens diferentes, bebem a sua própria seiva, sem nenhuma regra fixa...
          Certa vez me encontrei com o poeta Nílson Patriota, uma das grandes inteligencias que este estado produziu e lhe perguntei:
          Mas NÍLSON, você deixou de ser dono da Drogaria Globo, saiu da sociedade com seu irmão ?
          Nílson respondeu: Graças a Deus...você acha que eu, um intelectual, um poeta, era feliz pastorando um balcão...adorei deixar de ser comerciante...esta atividade é pra qualquer um...e ratificou:
          Eu sou um intelectual, mereço outro destino.