A CONSULTA
Era dia de atendimento ambulatorial, no melhor hospital público de Natal (RN). O movimento era grande e as fichas haviam sido todas distribuídas. A sala de espera fervilhava de pacientes, aguardando atendimento pelos diversos médicos que ali se encontravam.
O Dr. Bernardo Celestino estava em plena atividade, atendendo aos seus pacientes. O número de pacientes era grande, e o atendimento era um atrás do outro, sem perda de tempo.
Chegou a vez de Antônia da Silva, uma paciente que gostava muito de se consultar. Era do tipo hipocondríaco, que quando se curava de uma coisa, procurava logo outra, encontrando sempre um motivo para ir ao médico, nem que fosse para tirar um bicho-de-pé ou um calo seco…
Beirando os cinquenta anos, a mulher era um tipo redondo. Morena, baixa e gorda, sempre suada, falava pelos cotovelos.
Foi atendida pelo Dr. Bernardo Celestino, queixando-se de muitas dores na barriga, depois de ter exagerado na feijoada completa do dia anterior. Disse que havia se excedido, tomando muita cerveja e comendo muita carne de charque, paio e pé de porco, além de outros componentes gordurosos da feijoada.
O médico examinou o abdômen da paciente e não encontrou nada preocupante, que um simples chá de boldo não resolvesse. Esse conselho, entretanto, médico nenhum poderia dar em atendimento ambulatorial, sob pena de ser criticado e ridicularizado lá fora pelos próprios pacientes. Por isso, o Dr. Bernardo prescreveu a medicação mais simples para o caso, incluindo remédio para gases e um laxativo.
O médico entregou a receita à paciente, e fez as devidas recomendações, com relação à alimentação que ela deveria manter, à base de muito líquido, até que o intestino normalizasse. A mulher recebeu a receita, mas procurou estender a conversa com o médico, dizendo:
- Doutor, eu ando muito nervosa, poque fui vítima de um estupro…
Penalizado, o Dr. Bernardo Celestino indagou os detalhes da lamentável ocorrência.
- Como foi isso, Dona Antônia?
Visivelmente emocionada, a paciente contou ao médico:
- Doutor, eu me encontrava deitada no meu quarto, depois do almoço, quando forçaram e abriram a janela. De repente, pulou em cima de mim um negão, que mais parecia um jumento armado. Tapou minha boca com as mãos, rasgou bruscamente minhas roupas e me dominou. Parecia um animal enfurecido. Com a boca tapada, não pude gritar por socorro. Depois que ele fez comigo tudo o que quis, pulou a janela de volta e fugiu em disparada. Eu nunca, em minha vida, passei por um desespero tão grande. Foi um sofrimento horrível…
O médico ouviu, pensativo, a narrativa da paciente, e falou:
- Dona Antônia, eu acho que a senhora já me contou essa história antes!… Quando ocorreu isso?
- Esse caso ocorreu há trinta anos!
A mulher continuou a falar eufórica, agitando os dois polegares, em sinal de muita satisfação:
- É que eu adoro contar essa história!!! É a melhor lembrança que eu tenho na minha vida!!!
A consulta acabou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário