quarta-feira, 16 de abril de 2014

PARA A REFLEXÃO...

POEMA DO CRISTÃO
Jorge de Lima
...
Porque o sangue de Cristo
jorrou sobre meus olhos,
a minha visão é universal
e tem dimensões que ninguém sabe.
Os milênios passados e os futuros
não me aturdem, porque nasço e nascerei,
com todos seres, com todas as coisas
que eu decomponho e absorvo com os sentidos
e compreendo com a inteligência
transfigurada em Cristo.
Tenho os movimentos alargados.
Sou ubíquo: estou em Deus e na matéria;
Sou velhíssimo e apenas nasci ontem,
estou molhado dos limos primitivos,
e ao mesmo tempo ressoo as trombetas finais,
compreendo todas as línguas, todos os gestos, todos os signos,
tenho glóbulos de sangue das raças mais opostas.
Posso enxugar com um simples aceno
o choro de todos os irmãos distantes.
Posso estender sobre todas as cabeças um céu unânime e estrelado.
Chamo todos os mendigos para comer comigo,
E ando sobre as águas como os profetas bíblicos.
Não há escuridão mais para mim.
Opero transfusões de luz nos seres opacos,
posso mutilar-me e reproduzir meus membros
como as estrelas do mar,
porque creio na ressurreição da carne e creio em Cristo,
na vida eterna, amém!
E, tendo a vida eterna, posso transgredir leis naturais:
A minha passagem é esperada nas estradas;
Venho e irei como uma profecia,
Sou espontâneo como a intuição e a Fé.
Sou rápido como a resposta do Mestre,
Sou inconsútil como a Sua túnica.
Sou numeroso como a sua Igreja,
Tenho os braços abertos como a sua Cruz despedaçada e refeita
todas as horas em todas as direções, nos quatro pontos cardeais;
E sobre os ombros A conduzo
através de toda a escuridão do mundo,
porque tenho a luz eterna nos olhos.
E tendo a luz eterna nos olhos, sou o maior mágico:
Ressuscito nas bocas dos tigres, sou palhaço, sou alfa e ômega,
peixe, cordeiro, comedor de gafanhotos, sou ridículo,
sou tentado e perdoado, sou derrubado no chão e glorificado,
tenho mantos de púrpura e de estamenha, Sou burrísimo
como São Cristovão, e sapientíssimo como Santo Tomás.
E sou louco, louco, inteiramente louco,
para sempre, para todos os séculos, louco de Deus, amém!
E, sendo a loucura de Deus, sou a razão das coisas
a ordem e a medida: Sou a balança, a criação, a obediência:
sou o arrependimento, sou a humildade;
sou o autor da paixão e morte de Jesus;
sou a culpa de tudo.
Nada sou.
Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam

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