sexta-feira, 11 de abril de 2014

VATES POPULARES...

Joao-de-Barro-Faz-o-Ninho
 Dimas Batista
João de Barro bem alto faz seu ninho
Preparando de argila uma argamassa
Com as asas e os pés o barro amassa
E a colher de pedreiro é seu biquinho.
Quem teria ensinado ao passarinho
Construção de tão sólida firmeza
Que lhe serve de abrigo e de defesa
Contra o sol, contra a chuva e contra tudo?
Pequenino arquiteto sem estudo
Quanto é grande e formosa a natureza!
* * *
Cego Aderaldo
É belo ver, no sertão
Quando vai descendo a tarde
Os horizontes se enfeitam
A terra em calores arde…
Não há quem de lá se ausente
Que esta saudade não guarde.
Quando por lá desce a tarde
Canta alegre o tico-tico
A jaçanã bate as asas
Corre alegre o maçarico
De todos estes encantos
Meu sertão é sempre rico.
* * *
Rogério Menezes
Na região nordestina
Que muitos chamam de norte
Eu sei que a cara da seca
Tem aspecto muito forte
Tem o sorriso da fome
E a gargalhada da morte.
* * *
Carlos Magnata Cordeiro
Se eu tivesse poder seria justo,
Espichava pra sempre a mocidade,
Espalhava no chão tanta bondade,
Que a maldade morria só de susto.
Para o trabalhador que sofre o custo,
-boi de canga-da humana produção,
Repartia trabalho, terra e pão
Cada qual como irmão trabalharia,
Essas são as mudanças que eu faria
Se tivesse o poder em minha mão.
* * *
Wellson Souza Amorim
Passarinho fica alegre na gaiola
Galo canta no tereiro ao amanhecer,
Quando sabe que mais tarde vai chover
A formiga sai na porta aonde mora,
Chama toda sua família vai embora
Procura folhas verdes pelo chão,
Asa branca canta em cima do mourão
Dando adeus para a seca assassina,
Quando chove Deus monta a oficina
Que concerta os problemas do sertão
* * *
Zé Adalberto
Vim do ventre materno e me criei
Nesse Ventre Imortal da Poesia
Sou poeta e matuto, disso eu eu sei
Mas estar hoje, aqui, eu não sabia
Doutra terra, se eu fosse, amava enfim
Mas Jesus escolheu esta pra mim
E só o fato de eu ser de Itapetim
Já recebo homenagem todo dia!!!!!!
* * *
Damião Metamorfose
Eu sou a face da terra
que se move no arado
pedaço de chão molhado
com o sangue sujo da guerra
sou o bezerro que berra
sentindo a falta do leite
sou a gota de azeite
que põe sabor na salada
um pouco de tudo e nada
alegórico e sem enfeite.
Alegórico e sem enfeite
sou urubu que tem fome
fareja a carniça e come
resto pra mim é deleite
eu sou assim me aceite
humilde até na riqueza
sou sujeira,sou limpeza
sou o vento poluido
pedaço de pão dormido
sou parte da natureza.
Sou  parte da natureza
eco do seu sistema
a solução do problema
comida que falta à mesa
da serpente eu sou a presa
da águia sou a visão
sou ave de arribação
que migrou para o nordeste
um sonhador que investe
na cultura do sertão.
Na cultura do sertão
eu sou a roça perdida
o pé de planta sem vida
falta de chuva no chão
também sou a escravidão
de um caboclo sonhador
que nunca guarda rancor
da mão que já te feriu
sou a árvore que caiu
no corte do lenhador.
Por isso eu peço um favor
me respeitem eu sou a vida
não usem inseticida
me tratem com mais amor
usem melhor o trator
a mata é o meu pulmão
porque tanta ingratidão
começem a me proteger
se eu morrer quem vai morrer
são os filhos de Adão.

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