sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MEMÓRIAS DE UM MÉDICO DE PROVÍNCIA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.   



* * *
MEMÓRIAS DE UM CARA DE NOVA CRUZ: 

SUCO, PONCHE E REFRESCO


               Me criei tomando ponche…vim saber o 


que era suco, depois de grande…


além do


ponche, ainda na minha infância, o 


sucesso era o Q Suco…ou como vibramos 


com a chegada do Q Suco de Uva, de 


morango, de groselha…


             Quando 


adoecíamos, dispúnhamos de guaraná 


champagne Antártica, com arroz branco 


e ovo frito…biscoito Maria…lambedor de 


angico com cumarú… 


               

              No peito, uma 

massagem com Vick vaporub, ou 


transpulmim…oh! que alívio…pra quem 


tinha bronquite asmática…


O Ponche, era ,geralmente de 


maracujá…transparente, translúcido…


diariamente,ia uma poncheira para o 


nosso comércio, as 15h, 


religiosamente,para matar a sede do 


nosso pai…


               Nesta época, em Nova Cruz, cortava o 


cabelo com João Bil…que barbeiro 


simpático…era gordo, sorridente,tinha 


um cheiro de velho limpo, e exibia no 


riso, um dente canino inferior, de ouro…


provavelmente colocado por Dr. 


Gilberto 


Tinôco…


que era o dentista da cidade…





individuo envelhecia, morria, a terra 


comia, mais o dente de ouro permanecia 


intacto…


              Não existia 


fotopolimerização,nem resinas, mas as 


coisas dos dentes duravam, a vida toda…


         Paulo Bezerra morreu esmurrando a 


dentadura, para mostrar como 


Dr.Gilberto trabalhava bem…


              Que 


obturações bem feitas…definitivas…


               Ria muito com as conversas da 


barbearia 


de João Bill…que parava de cortar o 


meu 


cabelo, para mandar uma coisa para 


Eulália, sua esposa…ele vivia para ela…


mandava um coentro, uns 


tomates,carnes frescas, mas sempre 


mandava alguém entregar uma coisa 


para 


Eulália, na rua treze de maio…


               era um 


homem que se referia a mulher, 


estampando no rosto, o amor e a 


admiração….Coisa rara…


              Eulália era a 


princesa de João Bill…


          Para Eulália, joão Bill tinha os 


olhos  azúis...Ela era um raio de luz na 


sua porta...


               Naquela época, se vinha pra Natal por 


Tangará…era uma viagem de mais de 


seis 


horas…


              se o motorista do ônibus fosse 




João França,aumentava bem duas horas 


de viagem…dirigia devagar….


              


              Certa vez, 


custou tanto a chegar na rodoviária da 


ribeira, que quando estacionou,um 


gaiato perguntou se ele tinha vindo de 


ré…o motorista ficou irado…puto…quis 


se 


agarrar com o moleque.


               Certa vez, João Bill veio para Natal, 


após 


a feira,de ônibus, e em pé, segurando 


no 


guarda malas…


               o ônibus entupido de 


gente, um calor infernal….ao parar em 


Tangará, o velho barbeiro se dirigiu ao 


dono do bar,e pediu um refresco…estava 


morrendo de sede e calor…trouxeram-


lhe um litro de ponche….ele 


compulsivamente tomou dois 


copos,tomou outro, e bebeu o litro 


todo, 


               a sede era tão grande e ,sob a observação do 


barman, o dono, pediu novamente mais 


refresco,veio o segundo litro, que 


também foi tomando…nisso,o motorista 


do ônibus apita,lembrando o 


prosseguimento da viagem…o dono do 


bar esperava secar o segundo litro,após 




confirmação de que o refresco era 


gostoso… 


          O dono do bar ficou orgulhoso pela 


aceitação do freguês ao seu 


ponche...com um certo prazer, pela 


aceitação demonstrada pelo freguês…


               


              João Bill pagou, e correu para o 


ônibus, 


de motor já ligado,mas, voltou 


correndo, 


e perguntou ao dono do bar:


               De que era 


este refresco que eu tomei? Pois se eu 


adoecer, eu pelo menos sei o que me 


ofendeu…


          João Bill apenas quis matar a sede...

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