sexta-feira, 13 de abril de 2018

UMA CRÔNICA BONITA...

               Na despedida por aposentadoria da UFRN das nefropediatras Luiza e Mônica, Dr. Hélcio Maranhão fez essa belíssima crônica em homenagem às duas. Vale a leitura:
               Antes de se falar em despedida, hoje é o dia de se falar em A M I Z A D E.
Fred e Barney, para os antigos desenhos
Batman e Robin, para as TVs de tubo
Roberto e Erasmo, para a Jovem Guarda
Vinícius e Tom, para a Bossa Nova
João Grilo e Chicó, para o teatro de Suassuna
Thelma e Louise, para as telas do cinema
Luíza e Mônica, para a pediatria.
Dom Quixote e Sancho Pança
Da literatura para a vida real.
Ureia e creatinina, para os acadêmicos de medicina.
Sim, cada uma é como o rim
Direito e esquerdo
Côncavo e o convexo
Porém, mantendo-se independentes, se completam
Se unem em seu final
Para formarem um sistema imprescindível
Primordial, essencial.
                Duas amigas inseparáveis
Em objetivos, ideais e princípios.
Menos em personalidades.
Autênticas!
               Uma de família patriarcal, única filha
Nascida em Natal,
Espaços e atenção de sobra.
Crescera já conhecendo o movimento da capital.
Por circunstâncias do destino, que choque!
Assumiu logo cedo a paternidade da casa.
Havia de ser forte, combativa, idealista.
Assim, fora ensinada.
Não havia tempo a perder.
Outra de família matriarcal, de numerosos filhos,
Nascida e crescida em Marcelino Vieira.
Chegara a Natal mal completara a adolescência,
Trazendo consigo as tradições de sua terra
E todos os sonhos de menina até então acumulados.
Cresceu, aprendeu, realizou, amadureceu.
Aumentou o tom da voz. Quase gasguita.
Suas saias se tornaram cada dia mais curtas.
Libertou-se!
Liberdade essa que não se confunde com descompromisso.
Na estrada da vida, passara a assumir o papel de mãe.
Mesmo antes da sua própria, tão forte, começar a se isolar em pensamentos.
Provê, agrega, une. Mantem a casa cheia.
Antes de pensar em si, agrada.
Pela simples recompensa de ver os seus e os outros felizes.
A vida é sábia ao apresentar tantas encruzilhadas.
Pois é nelas que os caminhos se convergem.
História de vidas distintas aí se encontram.
Pediatria. A arte mais próxima do amor às crianças.
Com ela, chega a amizade.
Aquela velha amizade que entra sem pedir licença,
Antecedentes ou carteira de identidade.
Àquela altura, Luiza já ganhara uma espécie de referência paterna.
Dra. Eleide Fontes. Apesar de mulher, paterna na sua postura.
Professora pediatra entusiasta da nefrologia,
Abriu caminhos para que a sua “residente” mais querida chegasse à especialidade.
Quantos sonhos são realizados em outros!
Entre razão e emoção, velho dilema da humanidade,
Luiza clamou: Misericórdia! Minha acolhida será em Santa Casa.
E assim partiu.
E partindo o coração de dona Geralda que ficara solitário.

               Quando a partida tem volta é sabedoria.
Apesar de ninguém voltar ao que deixou.
Já se é outro. Tempo e lugar.
Mas, toda volta traz consigo o reconhecimento, a gratidão e o conhecimento.
Pioneira no percurso, Luiza deixara o caminho aberto para Mônica.
Ela também partiu. E lá se vai morar na cidade grande.
“Tem os olhos tristes deixando os companheiros na estação distante”.
Chamara “de mau gosto o que viu, de mau gosto, mau gosto.
É que Narciso acha feio o que não é espelho.
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho”.
Ou seja, aquilo que “é o avesso do avesso do avesso do avesso”.
Retomada a convivência em Natal, as meninas Toporovski agora adquiriram vida própria.
Entusiasmadas e inovadoras, fizeram da Nefropediatria HOSPED-UFRN uma referência regional.
De posturas atenciosa, comprometida, ética e atualizada, contribuíram sobremaneira e de forma pioneira para a saúde das crianças com enfermidades renais do Estado.
Contagiantes, são exemplo e estímulo para muitos seguirem seus caminhos, contribuindo para o engrandecimento da especialidade e plantando sementes nos férteis solos de seus alunos e médicos residentes, seja de pediatria, seja de nefrologia pediátrica, que outrora existiu por suas iniciativas.
E foram tantos e ainda são.
Amante da simplicidade, assim como as homenageadas, Cora Coralina parece resumir a trajetória de cada uma delas com palavras que só a poetisa-doceira da cidade de Goiás poderia saudar:
“Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."
Agora, seus corações apertam diante nova decisão. Já se pode ouvir a Canção da Despedida:
“Já vou embora...
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora pra sempre ele ficar”
Em resposta à melodia, outros e tantos corações as respondem:
“Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Somos nós, assim sem vocês.
Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Somos nós assim sem vocês.
Por que é que tem que ser assim
Se o nosso desejo não tem fim
Lhes queremos a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por nós
Por quê?”.
OBRIGADO

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