sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

LITERATURA DE CORDEL...


Leandro Gomes de Barros

Meus versos inda são do tempo
Que as coisas eram de graça:
Pano medido por vara,
Terra medida por braça,
E um cabelo da barba
Era uma letra na praça.

* * *

Oliveira de Panelas

Por este espaço onde moro
Meu sonho é tão colorido
Que eu tenho a doida impressão
Que ele foi construído
Por várias tintas confusas
De um arco-íris mexido.

* * *

Lourival Batista

És como milho de pobre
Que sempre se desmantela:
Vem o verão, ele murcha,
Vem a chuva, ele amarela,
Quando bota alguma espiga,
Certamente está banguela.

* * *

João Paraibano

Ao passar em Afogados
diga a minha esposa bela
que derramei duas lágrimas
sentindo saudades dela
tive sede, bebi uma
e a outra guardei pra ela.

* * *

Pinto do Monteiro

Aonde eu chego,não vi
Mal que não desapareça
Raposa que não se esconda
Bravo que não me obedeça
Letrado que não me escute
Cantor que não endoideça.

* * *

Cego Aderaldo
(No decorrer de uma visita ao Rio de Janeiro)

O clima do meu sertão
É mais quente e mais sadio,
Não é um clima abafado
Como este clima do Rio.
O sapo do Ceará,
Vindo aqui morre de frio.

* *

João Firmino
(Quando do falecimento do Cego Aderaldo)

Foi a forte aroeira que ruiu
Ao contato do gume do machado.
Foi o ferro melhor já fabricado
Que o mercado do mundo jamais viu;
Foi o trem, sem destino, que partiu,
E ao longo da estrada deu o prego;
Como Homero, também, ele era cego
A quem todo o seu povo admirava…
Para ser o próprio Homero só faltava
Ao invés de cearense ser um grego!

* * *

Manoel Bentevi

Na vida ninguém confia
Em nada sem ter certeza
São obras da natureza
Tudo que a terra cria:
Gente, ave, bicharia,
Tudo começou assim.
O homem é quem é ruim
Nada bom ele planeja
Por muito forte que seja
A morte pega e dá fim.

* * *

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