2. Fio partido. |
LUZ E SOMBRA (Versos escritos três dias antes da morte da autora) À poetisa Anna Lima Vamos seguindo pela mesma estrada, Em busca das paragens da ilusão; A alma tranqüila para o Céu voltada, Suspensa a lira sobre o coração. Ris e eu soluço... (Loucas peregrinas!) E em toda parte, enfim, onde passamos, Deixo chorando os olhos das meninas, Deixas cantando os pássaros nos ramos. Porque elas amam tua voz canora, Ó delicado sabiá da mata! E eu lembro triste a juriti que chora E a voz dorida em lágrimas desata. Gostam de ver-te o rosto de criança Limpo das névoas de um martírio vago, O lábio em riso, desmanchada a trança, No olhar sereno a candidez do lago. Até perguntam quando sobre a areia Em que tu pisas vão nascendo rosas: “Bela criança, tímida sereia, Irmã dos sonhos das manhãs radiosas. Por que trilhando a terra dos caminhos, Onde o teu passo faz brotar mil flores, Esta velhinha vai deixando espinhos E um longo rastro de saudade e dores?” Não lhes respondas... Pela mesma estrada Sigamos sempre em busca da Ilusão; A alma tranqüila para o céu voltada, Suspensa a lira sobre o coração. Vamos; desprende a doce voz canora, Que ela afugenta da tristeza o açoite; E, enquanto elevas o teu hino à aurora, Eu vou rezando as orações da noite... |
FIO PARTIDOFugir à mágoa terrena E ao sonho, que faz sofrer, Deixar o mundo sem pena Será morrer? Fugir neste anseio infindo À treva do anoitecer, Buscar a aurora sorrindo Será morrer? E ao grito que a dor arranca E o coração faz tremer, Voar uma pomba branca Será morrer? II Lá vai a pomba voando Livre, através dos espaços... Sacode as asas cantando: “Quebrei meus laços!” Aqui, n’amplidão liberta, Quem pode deter-me os passos? Deixei a prisão deserta, Quebrei meus laços! Jesus, este vôo infindo Há de amparar-me nos braços Enquanto eu direi sorrindo: Quebrei meus laços! Janeiro, 1901. |
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário