segunda-feira, 23 de outubro de 2017

AINDA SOBRE O CERIMONIAL DA MORTE...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

               Me encontro cansado, mas a ansiedade e a curiosidade me deixam aceso como um círio, que não se apaga com ventania...
               Acabo de chegar do cemitério...vim pra casa, após o meu sepultamento...sou movido pela curiosidade que sempre me definiu...quero ver o que fica do que se pensa que acabou...
            Estou mais ansioso do que cansado...temo ser reconhecido, como se um morto pudesse ser visto entre os seus  no post morte...
temo encontrar um vidente e me dedurar, e eu ficar sem graça entre os vivos...
          Começo a escutar o que se diz nas pequenas rodas de amigos:não sabia que era tão bom...
 não sabia que possuía tantas qualidades humanas louváveis...
          Era um homem bonito, gentil. de muita fé,difícil de ser reposto nas prateleiras do mundo...
          Estou me achando parecido com Brás Cubas, de Machado de Assis, seria uma imitação, ou mais outra maneira de querer ver o que se supõe que acabou...
          Me aproximo de cada cachorro meu...meu grande patrimônio afetivo durante toda a minha vida...os  cachorros me fitam, eles sim, me sacaram, mas me olham, me cheiram e me traduzem uma certa dúvida...uma indiferença...São AS FIGURAS MAIS TRISTES DA CENA...estão mortos também...um cachorro morre com o seu dono.
          Estou vivendo um estado indescritível, onde se vê, se sente,mas não se comunica, não se interage...é por isto que ninguém dá notícia da morte...ninguém fala  do depois que morreu...
          Não me encontro deprimido...estou ansioso...ávido em saber que tenho que voltar e dormir no meu túmulo implacavelmente...perdi o medo de tudo...um morto nada teme...
          sinto me picado, assado, a pele rachando, começaram  as autólises do protoplasma, das células....evito espiá las...mas me sinto a cada hora mas leve...a massa está se consumindo...deve ser os pródromos para subir e flutuar até o céu...o que restar de mim veio do pó e se transformará em pó...estava escrito...já não sinto nenhum odor...não tenho saudades...não preciso voltar...é uma viagem unidirecional, essencial á vida, justa...
          o que era da vida passou...todos os problemas eram sonhos...todas as dores eram psíquicas, vindas da angústia gerada PELA  TRISTEZA QUE SUJA O MUNDO...ao longe escuto os sinos, hoje eles dobram por mim...amanhã tocarão para você...tenho certeza...
          Estou falando de uma situação que será fatal e insubstituível no desenrrolar da vida de cada um...não existe escape... não pode ser adiada...é o dia fatal...
          È por isso que o anel de São Francisco de Assis era uma caveira, cujo objetivo era lembra-lo que um dia, a morte...

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