terça-feira, 8 de maio de 2018

A CARENCIA DO EU....POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL


          No Tempo que celebravam os meus anos a vida era mais risonha...
          Já éramos felizes, mas ninguém tinha morrido...
          A Vida vinha em ondas como o mar, e havia uma grande perspectiva de tudo...
          Ninguém tinha câncer...as crianças somente gripavam e quando se cortavam o sofrimento era o mertiolate...
          Não tinha antidepressivos...se pegava no sono e quem nos acordava era o canto dos galos nos quintais...se dormia e se babava na fronha...adormecia com mamãe me pastorando, tangendo o pavão e o bicho papão...apesar de ter um certo medo do boi da cara preta...
          Era  na época que conheci a grandeza humana...quando mamãe se levantava de ponta de pés, me punha no braço ,eu febril e tossindo, e me levava para dormir no seu quarto...voo insubstituível, o do colo da mãe...
          Hoje os prazeres são outros...são outras carícias que não derretem a alma carente do adulto, que em resumo é uma criança atrás dos seus óculos...
          Bom tempo aquele que só era esperança...
          Bom tempo quando se queria antecipar o  amanhã...
          bom tempo quando se torcia para o tempo passar rápido...
          Hoje, dentro de cada um  existe a vontade intrínseca que o tempo não corra demais...
          Hoje completamos 63 anos, e temos amigos que já estão com oitenta...devagar tempo...devagar tempo...pare o carrossel que eu quero descer...
          Devagar tempo, o homem é um ser que caminha para a morte...
          ANDO IMERSO EM SAUDADES, LEMBRANÇAS, RECORDAÇÕES...preferia ter meu velocípede, minha bicicleta velha, meu patinete de rolimãs...
          Saudades da rua do grupo...
saudades dos malvões de dona Maria  Lúcia...
          Se o meu rosto é o mesmo, a minha fisionomia é diferente...falta-me o eu, e este eu era tudo...
          FUI MUITO, MAS FUI UM REI QUE ABDIQUEI DO TRONO...
          A VIDA PRA MIM FOI POUCA  OU FOI DEMAIS...E  aqui repito o General Góis Monteiro,ministro da guerra de Getúlio Vargas, no dia que passou para a reserva,e respondendo a um jornalista:
          O que o senhor gostaria de ter sido na vida...o senhor que ocupou todos os cargos importantes da nação?
          Responde o velho general:
gostaria de ter sido um décimo do que um cadete pensa que vai ser...
          E o que disse  Picasso ao jornalista quando lhe perguntou:por que o senhor tem uma mansão em todas as grandes capitais da Europa? com funcionários, mordomos,e as vezes passa um ano sem ir numa delas?
          responde o pintor:
          CHEGA UM TEMPO QUE TUDO VEM COM MAIS FACILIDADE, INCLUSIVE A MORTE...
          HOJE, eu vejo-me e estou sem mim...
          Conheço-me mas não sou eu...

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