quinta-feira, 15 de março de 2018

EVANGELHO DE DIÓGENES DA CUNHA LIMA SEGUNDO DR. PEDRO SIMÕES...


UM NOVACRUZENSE ILUSTRE...CUNHA LIMA...


DIÓGENES COM A ESPOSA, VERA, MÉDICA.

DIÓGENES DA CUNHA LIMA

" DIÓGENES, INVENTOR DE


CRIATURAS, COLECIONADOR

DE


AMIGOS (RETRATO 3 X 4 DE

UM AMIGO-POSTER



MERECEDOR
DE OUT-DOOR)

Ninguém foi mais biografado, referido, louvado e amado que


Diógenes

da Cunha Lima, filho.

É o modo que os seus muitos

amigos encontraram de

expressar o seu

bem-querer e a sua Gratidão

pela amizade-sombra-guarda-

chuva de tão

querido parceiro. Quem chegou

tarde Encontrou pouco espaço

para dizeres, querências e

louvações. Restaram os

entretantos E vieses. Pouco

mais que

uma ou outra pose para um

retratinho no lambe-lambe das

feiras

interioranas. Nesses espaços,

confins e lindes ainda assim

aventuro-me, temerário e

desajuizado, sovinando Ouro,

incenso e mirra por

pauperismo

de origem, carecendo até

mesmo de riqueza narrativa ou

vocabular para

fazer o enfrentamento das

circunstâncias. Mesmo assim,

rendo

merecidas loas Porque o santo

não é de barro nem o andor

colado

com cuspe.



O sol não manda arautos à

frente para anunciar-se, mas a

sua luz (Zalkind Piatigórsky)





Trouxe a lume o dia mais claro

e mais azul que pudesse ser.

Alumiou mais

ainda a claridade para observar

a criatura. Descobriu-se um

Diógenes

diferente do grego, amante da

criação e da criatura. Não mais

buscava, anunciava. Tornou-se

poeta, de frase curta, rima

incidental, palavra grávida

de beleza e de intenções,

precisa. Suficiente.

E por amar o mundo e os seus

habitantes, fez-se,

naturalmente, generoso.

Largo de gestos, talvez,

parafraseando a poeta,

gesticule seu pensamento, de

sorte que mesmo estando



parado é já ter compreendido

ou não ter dúvidas.

Com um abraço, transfere-se,



com um sorriso se explica. Com

a palavra

constrói amigos e abrigos,

inventa alvores e ainda reúne

os escombros do

dia para fundear a noite.

Em suas lidas, “... reparte a

côdea, o boi (...) e sobretudo e

mais que tudo,

a palavra sem fel”. Uma pomba

seria a imagem mais adequada

para o seu

verbo - branca, plumosa,

digna, no bico um ramo de

algaroba anunciando -

o fim da estiagem e os rigores

do inverno.

O sorriso sempre pronto,



freqüente e estimulante, mal

comparando, como as portas

automáticas que se abrem

quando o sensor indica a

presença humana,

e, bem comparando, qual o

girassol que se volta na direção

da luz. Um sorriso

a meio caminho do vicariato,

no rumo do hospitaleiro

interiorano. Com gosto,

sempre. Um meio aguado

quando de simpatia, apenas.

Mas cheio de sol nos portantos

e portentos.

Todavia, cautela é

recomendável, sem pressa

conclusiva quando o virem

assim, na tarde, sorridente,

imaginando-o sem propósito.

Jorge Fernandes adverte:

Habitualmente vivo assim,

sorrindo.

O riso para mim exprime

tudo...

E no ato mais sério, estando

rindo

Sou mais sério rindo que

sisudo.

Porejado por uma santidade

profana, porque aceitou,

melhor dizendo, acoitou

os pecadilhos como

contraponto de sua natureza e

fatalidade inelutáveis. Legítima

defesa. Afinal, tornara-se

mortal e nordestinado desde

que viera á luz num vale de

lágrimas, cuja tanta profusão

formou o Curimataú,

recorrente rio

da infância. Nessas águas,

dessalinizadas e adoçadas no

sobejo da boca do Diógenes-

pai, e Eunice-mãe, navegou até

o Potengi.

Primeiro, desembarcou no

refoles de Riffault. Quando,

que nem Crusoé

espiando as sextas-feiras,

descobriu as margens ramosas.

Um dia, teve vontade

de continente e, conduzido

pela maré, fincou raízes

provisórias à beira do cais

da Tavares de Lira.

Depois, transplantou-se pelas

ribeiras e alecrins e pelas

alturas e baixios da cidade.

Virando homem-árvore

(imponderável baobá) danou-

se cabeça arriba para as dunas,

mergulhou a folhagem mística

no mar de arrebentação

pouquinha, recolhendo a sutil

renda branca tecida pelas

ondas para formar as nuvens,

e, fiado no farol de Mãe Luiza,

aventurou-se por mares nunca

dantes navegados.

Conheceu os sábios do Sião, os

Reis Magos, o santo Cascudo

de muitos saberes

e muitos charutos, os mitos e

as lendas de um Natal

memorável, seiva de suas

raízes – Navarro, Dorian,

Rabelo, Veríssimo, Djalma

Marinho, Jorge Fernandes, Zila

Mamede, Onofre Lopes, Nei

Leandro, Lula Capeta (também

louvado como Guimarães),

Sanderson, o almocreve de

sextante apontado para as

estrelas...fábula, fábula.

(De Itajubá, o Ferreira, só

conheceu a poética, mas foi

suficiente. Rendido

pelas tantas belezas dos

versejados, num culto à sua

imortalidade, mandou

restaurar a casa onde nasceu.

Como mandou esculpir e pintar

quadros dos

seus cultuados, num ritual

pagão pré-franquado por Deus.

É assim o magnífico Diógenes.)

Com aprendizado bem posto e

afamado, foi ensinar o que

aprendeu, para não sovinar a

ciência. Capitulou-se à

universidade e ficou sendo seu

Reitor. Refém

do seu ofício, entregou-se

escravo de ventre livre à sua

terra e à sua gente.

Foi mais além, foi deão de

todas as universidades

brasileiras, e é presidente

do Panteão de Letras

Potiguares, sem perder o

sotaque, nem perder de vista o

verde oceânico potiguar, a

fascinação das dunas

caprichosas e o aleitamento

do Curimataú.

Porque foi sempre e a vida

toda uma criatura

compromissada com a sua

aldeia, que nem o santo

besouro cascudo Luís da

Câmara e o Fernandes que

Jorgeou

com os pássaros.

Andou por Seca e Meca, Oropa,





França e Bahia. Foi

condecorado, enaltecido,

honrado e comendadorado,

mas, no terceiro dia sempre

ressurge dos céus mais

luminosos e promissores e

planta-se nos quintais da sua

terra adotiva. Toca o sino,

como os nativos dos mares do

sul sopravam os búzios, para

as celebrações dos amigos, em

Pirangi - o mar embaixo,

caminho de navegação, carta

de

alforria da alma viajora.

Homem que bota fé nos

compromissos assumidos, leal,

pastoreador de amigos

e de sonhos delirantemente

perseguidos e realizados,

surpreende os alheados

e se assombra, ele próprio,

com a o tamanho e a extensão

dos seus devaneios.

Decidiu criar o projeto Rio

Grande do Norte, em que faria a Universidade debruçar-se

sobre os problemas de sua

terra e oferecer-lhes alento e

cura.

Assim o fez. Enfrentou o

desafio de executar o maior

programa de editoração

da produção intelectual dos

docentes e discentes da sua

academia. Foi feito.

Beiradeiro de Nova Cruz, fez

propósito de liderar os

dirigentes das instituições

de ensino superior do país.

Tudo gente bem letrada e bem

falante. E foi.

Quis ser dono de um baobá, ao

menos tutorar um espécime

dessa árvore-útero,

sementeira da raça, instituir-se

o seu poeta e oficiante, e deu

no que deu. O “baobá do

poeta” é atração turística de

Natal. É, por isso mesmo, o

homem-árvore referido nos

prolegômenos desse escrito.

Deu até nome de Estação

Ferroviária, a da Ribeira, de

mor valia. Quem já emprestara

seu nome a tanto alvoroço,

gente de indo e vindo, lendo na

plaquinha o porto seguro de

partida e de chegada: Diógenes

da Cunha Lima?

Só um predestinado a ser.

Coleciona amigos como outros

o fazem com coisas ditas muito

importantes

sem importância nenhuma.



Diz que até inventa pessoas,

descobre um quê embutido em

cada um e,

por artes d´alquimia, faz

florescência desse intuitivo

insuspeitado.

Cada causo tem três estórias: a

sua, a minha e a verdadeira.

Mas esse causo eu conto, como

o causo foi. Rei é rei e boi é

boi.

Conto um causo de vera

acontecência como romance

sem rima, seco que nem o chão

da catinga, aqui e acolá, um

respiro de uma macambira e de

um mata-pasto. Lá vai:

Mal sucedido numa fábrica de

ração para aves, certo

advogado, ainda jovem,

mas já renomado, desfez-se do

seu patrimônio para saldar as

dívidas

comerciais e aceita convite

para administrar um grupo de

empresas na

distante Teresina, capital de

Piauí.

Corria o ano da graça de

1976/1977, por aí...

Dito causídico que tinha até

veleidades literárias, um poeta

passivo e militante de sonhos

vários, de repente vê-se

degredado para um sítio ermo

de praia e de brisa, os floreios

convertidos em atos de

gerência, haveres e deveres,

exilado da sua aldeia. Os filhos,

todos mui pichotos, deram

para emagrecer e apresentar

um calundu de fazer dó.

Saudades da terra Natal,

textualmente.

Passou ano e meio cabeça

baixa, sem olhar o céu,

impondo-se ofício missionário:

já que a quimera havia

murchado, que recuperasse

viço o patrimônio perdido.

Em fins de 1978, recebeu a

convocação do amigo, então

candidato a Reitor – que

voltasse para Natal, que era o

seu lugar. Quando chegasse os

problemas seriam solucionados

a contento, sob seu patrocínio.

Vendeu o que tinha e atendeu,

confiante, ao chamamento do

seu patrono. Incorporou-se à

campanha para conquista da

Reitoria da UFRN, participando

de um grupo com centenas de

militantes e após dura batalha,

hoje mitigada
mas dantes celebrada como


encarniçada, Diógenes foi

nomeado para o cargo.

Nesse meio tempo, sentou

praça como editor-assistente

do Rn-Econômico, que

atravessava uma

extraordinária fase de

expansão, não por seu auxilio,

mas porque confirmava-se a

excelência da parceria Marcelo

Fernandes-Marcos Aurélio Sá,

dois grandes amigos e

profissionais competentes, que

se completavam.

Certo dia, o amigo-reitor

comunica que quer tê-lo como

o seu substituto na cátedra de

Direito Comercial. Que

buscasse Amaury Sampaio

Marinho, então chefe do

Departamento de Direito

Privado, para os acertos.

Pouco mais de um ano depois,

o inventor de gente consultou

Marcos Aurélio



Sá, seu também amigo,

porventura o desfalque do

editor assistente era perda

irreparável, ou suportável em

curto ou médio prazo. O

jornalista respondeu que

preferia manifestar opinião

depois de conversar com o seu

editor, para aferir

as suas conveniências e

sugestões e avaliar a

conjuntura.

Deu-se então que Sanderson

Negreiros havia pedido

exoneração do cargo de

Pró-Reitor de Extensão e

Diógenes, inconformado com a

perda, queria ter o amigo, a

quem creditava a qualidade de

bom executivo, para ocupar a

vacância do notável intelectual.

Um complexo de inferioridade

apossou-se logo do convidado,

pari passu com

a preocupação de deixar os

dois amigos que lhe confiaram

a editoria da revista em

dificuldades. E porque

substituir José Sanderson

Adeodato Fernandes de

Negreiros, era tarefa para

kamikaze, tamanha a

criatividade, a inteligência e a

referência de boa gestão na

área responsável pela cultura

da UFRN.

Afinal, feita as ponderações 

necessárias, e tirado os nove-

foras, decidiu

conforme o que é sempre dito

como lugar comum em tais

situações –

aceitar o desafio.

O resto é história conhecida.

A Pró-Reitoria de Extensão,

graças às idéias e ao apoio

irrestrito de Diógenes,

converteu-se em modelar,

mantendo cinco programas

inovadores que mudaram

a feição dessa unidade

acadêmica: Programa de

Editoração do Trabalho

Intelectual da IES (Peti),

gerenciado por Dona Salete e

Amaral; Programa de

Aplicações Científicas e

Tecnológicas (Pacto), pelo

Professor Adilson Gurgel

de Castro, com ajutório de

Uilame Umbelino, Liacir Lucena

e Glaucus Brelaz; Programa

Memória, pelo professor

Iramar Araújo e Programa

Vanguarda, pelo professor Ari

da Rocha.

Além disso, o afoito desafiado

tinha sob sua guarda, o Crutac,

menina dos olhos do sempre-

reitor Onofre Lopes, a Editora

Universitária, o Núcleo de Arte

e Cultura, o Núcleo de Estudos

Panamericanos, a Televisão

Universitária, e o Centro de

Convivência. Era um mundéu

de coisas para cuidar e tocar,

tudo feito com dedicação e

carinho por uma equipe

memorável: Fernando Lira,

Airton de Castro, Vilma

Sampaio, Lúcio Brandão, Carlos

Lira – ah, meu Deus, Carlinhos

Lira, ele próprio Memória Viva,

vivo e eterno na memória. E

Franco Maria Jasiello, romano

erudito de chapéu de couro e

gibão. Tão “magnífico” amigo

quanto Diógenes que encarnou

e deu essência afetiva a esse

título acadêmico.

Graças a essa equipe e ao

apoio do Reitor, o titular da

Pró-Reitoria alcançou

tal prestigio e notoridade que

se habilitou a disputar a

sucessão do próprio Diógenes,

merecendo dos conselhos

superiores o maior número de

votos e a primeira posição da

lista sêxtupla na disputa pela

sua sucessão.

Esse tal fui eu, também

criatura “inventada” por

Diógenes.

Fim do causo e continuação

das loas de merecimento.

Há nessa criatura-criadora,

também, e um tanto sobretudo

(literalmente

reforço e abrigo), um advogado

de tanta maestria e alquimia

que é capaz de

tocar Midas e convertê-lo no

que quiser, um abre-te sésamo

que é univitelino

com o direito regente no país.

Cortez Pereira, injustiçado e

fustigado indignamente como

fosse, com licença da má

palavra, boi-de-piranha, foi

tocado por esse-um.

Mas, até esse dom é diluído em

tantas vertentes, quantos

heterônimos de Fernando

Pessoa, tributando-se a

jusante e a montante a uma

corrente que é principal e

essencial: o poeta-escritor, que

magicamente, valendo-se do

próprio ofício e dele

recorrente, inventa gente e

coleciona amigos.

É também compositor, escreve

estórias infantis, e, se brincar,

casa, batiza,

faz chover no seco e no

molhado e inventa uma lua três

vezes sol.

Cogito que é espécie

dissemínula, diáspora.

Reproduz-se em outras tantas

espécies, transplanta-se,

transmuda-se, transfigura-se

ocasionalmente. Transfere-se

grão no bico de ave-palavra-

pomba, não mais algaroba,

mas sementeira de baobá

robusto e frondoso, sagrada

habitação telúrica onde as

oferendas são plantadas em

demanda da beleza.

Eis porque mordo a língua...

“ ...e deixo minha fala secar

comigo,

e cair como poeira

sobre os olhos famintos”

monte de cinzas

uberdadivosas

adubo de bem quereres

OBS. Quando me ponho e me



colho a transfigurar os amigos,

inventando personagens e

cenários onde pudessem

caber, 


vejo sempre um Diógenes olímpico, boêmio e cristão:

túnica e louros de tribuno

romano, harpa a tiracolo, como

os tangedores de violão,

sentado à mesa da santa ceia

no mesmo lugar do Divino

Mestre, os amigos ao redor

aguardando a multiplicação

dos pães e do vinho,

com gestos largos e solenes,

como é seu jeito de ser.



PEDRO SIMÕES –

Professor de Direito

aposentado, escritor e 



advogado. "

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