sexta-feira, 5 de maio de 2017

LITERATURA DE CORDEL...



Raimundo Lucas Bidinho glosando o mote:
Seis e meia na igreja
Às oito no cabaré.
Nossa Várzea Alegre cria
Uma certa criatura
Que toda noite mistura
Orações com putaria
É louca pela orgia
E nas imagens tem fé
São Vicente e São José
Bem veem a sua peleja
Seis e meia na igreja
Às oito no cabaré.
Dizem que este fulano
Pelos seus modos não mente
Pensa em ser futuramente
Um novo São Cipriano
Que todos dia do ano
É encontrado na Sé
Ajoelhado ou em pé
Por enfadado que esteja
Seis e meia na igreja
Ás oito no cabaré.
Em sua religião
É um católico acordado
Quando comete um pecado
Vai logo pedindo perdão
Não sei se terá ou não
A crença de São Tomé
Ou tendo, ou não tendo fé
À noite os altares beija
Seis e meia na igreja
Às oito no cabaré.
* * *
Leonardo Bastião
Eu também plantei saudade
Numa pequena panela
Só de quinze em quinze dias
É que eu botava água nela
Pr’ela não crescer demais
E matar quem cuidava dela
Eu não adivinho a morte
Porque Deus não quer assim
Mas as doenças que eu sinto
E as “dor” que se arrancha em mim
Dá pra perceber que a vida
Tá muito perto do fim
Na mocidade eu não pude
Vencer os planos que fiz
A velhice acompanhou
Já fez de mim o que quis
Com tanta velocidade
Que deixou a mocidade
Numa distância infeliz
Quem já passou dos sessenta
Do seu futuro tem medo
Que o tempo anda mais vexado
Pra chegar no fim mais cedo
Depois do fim é a morte
Depois da morte é segredo
No dia que eu morrer
A minha vida se encerra
Vou prestar conta a Jesus
Único juiz que não erra
E pagar pelos pecados
Que fiz em cima da terra.
* * *
Rangel Junior – QUEM SOU EU
Sou meio destrambelhado
Sempre chegando atrasado
Vivo sempre apaixonado
Só assim vejo sentido
Sou como chão de estrada
Vivo levando porrada
Ô, vida desmantelada
Essa que tenho vivido.
Às vezes sou meio gente
Às vezes sou meio bicho
Quase sempre estou contente
Igual a pinto no lixo
Quando a vida faz careta
Feito “boi-da-cara-preta”
Respondo c’uma munganga
“Isprito” de cangaceiro
Feito entidade em terreiro
Num tem quem me bote canga.
De Dona Neide sou filho
E também de Seu Tonito
Bom de mote e estribilho
Não sou feio nem bonito
Um cab’assim, mais-ô-meno
Nem muito grande ou pequeno
Nascido em Juazeirinho
Pode não saber de tudo
Mas não sabe ficar mudo
Fazendo o próprio caminho.

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