terça-feira, 22 de junho de 2021

 

Amigo Diógenes

 

Nada como o tempo para passar...

A Partitura tocada pelas chuvas nas telhas sempre me entorpeceram...desde criança que  repito  Neruda:eu sou um passageiro da chuva...

Quando criança, mamãe me embalava na rede tocando no acordeon: La Cumparsita e Lencinho Branco...dois tangos...quando cantava, falava do boi da cara preta, que pega as crianças que tem medo de careta...

Ainda criança,aos 7 anos disse a minha mãe: tem música que corta a gente como uma Gillete...Depois de adulto esccuto  Artur da Távola repetir esta mesma frase minha, ao apresentar músicas de Piazolla...Ele também dizia:Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão...Apesar de tudo tinha Depressão, e o seu Psiquiatra era um Nocacruzense: Domício Arruda Cãmara,Rj...com ele estabeleceu uma amizade,que o fez ser padrinho de um dos seus filhos.

Fernando pessoa já falava dos Sinos da minha aldeia e dizia: A primeira badalada já tem o som de repetida...Quando criança, me impressionava atristeza provocada pelas badaladas,durante os enterros...Via nos sons a morte, o fim do caminho, lágrimas, o Incognoscível...

A grande novidade do seu grande texto  foi a autoria do Tantun Ergun...Não sabia que era de São Tomaz de Aquino...

Tnente Freitas era excepcional, um compositor que eu  comparava a Miguel Gustavo...Sempre me procurava para me mostrar a nova canção que tinha composto...Fez  o hino, que ainda hoje emociona á cidade: José Peixoto, não temas a opressão,não é ala moça, que faz ganhar a eleição...quem elege o candidato É VOTO, do eleitor consciente e nobre, por que na realidade, O RICO NÃO GOSTA DO POBRE...

Na sua última visita, á nossa velha loja,me falou da sua última composição: em dezembro de 76, muito marido vai ter desgosto...por que , com a nova lei, mulher feia vai pagar IMPÔSTO...

Olival era o  baterista do nosso conjunto: OS MARCIANOS...trouxe para o mundo uma de suas filhas saxofonistas, fiz uma cesárea e liguei as trompas de Fátima...

Estava no Café Santa Clara, no MIDWAY, e uma moça se aproximou e disse: O senhor é  o Dr. Bernardo...disse: sou...O Senhor foi quem me trouxe ao mundo...Como eu tinha vontade de lhe conhecer...Aliás, em Nova Cruz só se fala em DR. Diógenes e em Dr. Bernardo,tinha vontade de conhece-los...PODE ?

AOS 6 anos, passei na casa de Neco do CORREIO, á noite,estava havendo uma farra: LUIZ TAVARES NO CLARINETE, CHIQUITO no violão,ARNÔ no bandolin e Baltazar no pandeiro...pela primeira vez cantei uma noite inteira, tomando guaraná e comendo carne assada...todos os músicos ficaram admirados com a minha queda pra música...A partir deste dia, Neco passou a me chamar de POETA...foi  ele que confeccionou o meu CRACHÀ...

Lembranças importantes para mim , eram AS CANTIGAS DOS CEGOS...Na esquina da nossa loja, era o melhor ponto para se pedir esmolas,lá sempre estavam dois cegos, cantando nas feiras, implorando o PÂO DE CADA  DIA...Certa vez havia um colóquio popular entre um cego e uma cega...A CEGA cantava em versos que, tinha tido vinte machos  mas ainda era virgem...o CEGO se contrapôs também em versos: OU  VOSMICÊ NÃO TEM BUCETA OU SEUS MACHOS NÃO TINHAM POMBA...

Lembro de outros apelos, que os Cegos usavam para amaciar a caridade dos transeuntes:

A MULHER E OCAVALO MORRERAM NO MESMO DIA...do cavalo eu tive pena, a mulher deu me alegria : cavalo bom é difícil e mulher ruim tem todo dia...

Menina case comigo que tu não morres de fome,lá em casa tem uma pinta e mãe mata e nós come, DE DIA TU COME PINTA E DE NOITE PINTA DE COME...

JOÃO RAMOS ERA DA BANDA DE MÚSICA...POR COINCIDENCIA MORREU ESTA SEMANA O SEU HERDEIRO MUSICAL: JARCIEL RAMOS,QUE TAMBÉM TOCOU NOS MARCIANOS...

SOBRE A MÚSICA DE NOVA CRUZ , NÃO SE PODE ESQUECER:

1...O STÚDIO DE QUASE 24 HORAS DA CASA DE TIA NAZINHA,COM ITAMAR NO ACORDEON, COM NELSON DO ACORDEON E BREJEIRO CANTANDO...SE TOCAVA DIRETO,SÓ REVEZAVA OS GRUPOS...NA SALA EXISTIA  TODOS OS INSTRUMENTOS,QUEM SABIA TOCAR LEVANTAVA A TRAMELA DA PORTA E ENTRAVA...A BEBIDA ERA NO MÁXIMO UM COPO DÁGUA FRIA DA QUARTINHA...Neste tempo,o oitão da matriz era iluminado por lindos choros, que fazia os transeuntes ficarem hipnotizados,vendo das janelas da casa...Isso se prolongava até de madrugada, e Nova Cruz adormecia em  Paz... A agilidade de ITAMAR no acordeon,só pode ser comparada a de SIVUCA...

Lembro também de seu JOQUINHA, na espreguiçadeira de pano, tocando violão sete cordas,as músicas de Dilermano Reis, as vezes o cantor era Manoel Pilar...

Me lembro de seu MANDURICO, o tipógrafo de  PAULO BEZERRA,tocando violão e cantando com sua voz de sons médio...tenor...Seu filho WILSON tocava PISTON, e João de Zé PASSOS tocava SAX, era um músico militar, uma virtuose...

Guardei isto tudo dentro de mim...faz 66 anos que tento andar, mas não conseguí sair da minha rua.

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