por que repetes o que não sou mais eu?
sua imagem é de vulto,
eu sou de sonhos...
não está nesta sombra o menino, nem o adulto, nem o velho,
você reuniu os três numa ruma, que só faz volume...
cade a minha chinela de couro, chinela de rabicho, num pezinho pequeno, e abaixo dele um rio...
a sombra é incompleta, mostra vultos, mas não mostra detalhes,mostra flashes, mas não mostra vida...
tudo continua comprimido dentro de mim,em movimento,triturando a alma,rebobinando os filmes dos quais somos feitos...
quero uma sombra real, que divida comigo a angústia de viver, a angústia que suja o mundo...
eu sou de cristal, minha sombra é de barro...
a minha sombra matou os meus amigos...ou eles não comportaram fazer parte da minha sombra...
não reconheço os meus pais na minha sombra, tiveram o destino e a vocação do éter...
eu era mais gente...
eu tinha mais gente...
eu sorria mais largo...
eu tinha mais dente...
chega um tempo que você desacredita da sua sombra...
ela é monótona, e suscita em você, tudo o que a vida apagou...
Bons tempos eram aqueles que eu me via na minha sombra...
bons tempos eram aqueles que eu tinha a alegria da minha sombra...
Tempo bom aquele onde eu caminhava na sombra...
quando eu tinha sombras, e elas iluminavam os que se distraiam nas trevas...
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