quarta-feira, 5 de abril de 2017

Perguntando a minha sombra...por Bernardo Celestino Pimentel

          por que repetes o que não sou mais eu?
          sua imagem é de vulto,
eu sou de sonhos...
          não está nesta sombra o menino, nem o adulto, nem o velho,
você reuniu os três numa ruma, que só faz volume...
          cade a minha chinela de couro, chinela de rabicho, num pezinho  pequeno, e abaixo dele um rio...
          a sombra é incompleta, mostra vultos, mas não mostra detalhes,mostra flashes, mas não mostra vida...
         tudo continua comprimido dentro de mim,em movimento,triturando a alma,rebobinando os filmes dos quais somos feitos...
          quero uma sombra real, que divida comigo a angústia de  viver, a angústia que suja o mundo...
          eu sou de cristal, minha sombra é de barro...
          a minha sombra matou os meus amigos...ou eles não comportaram fazer parte da minha sombra...
          não reconheço os meus pais na minha sombra, tiveram o destino e a vocação do éter...
          eu era mais gente...
           eu tinha mais gente...
           eu sorria mais largo...
 eu tinha mais dente...
          chega um tempo que você desacredita  da sua sombra...
          ela é monótona, e suscita em você, tudo o que a vida apagou...
          Bons tempos eram aqueles que eu me via na minha sombra...
          bons tempos eram aqueles que eu tinha a alegria da minha sombra...
         Tempo bom aquele onde eu caminhava na sombra...
quando eu tinha sombras, e elas iluminavam os que se distraiam nas trevas...

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