Antigamente a escola era risonha, como dizia o poeta;
Antigamente se respeitavam as tradições, os costumes, e o respeito em si, eram uma norma de conduta cobrada pelos pais e por toda a família.
Ontem me lembrei do meu velho tio Paulo Bezerra Souto que pontificou a sua vida em Nova Cruz, que foi o seu céu e o seu calvário;
Certa vez, o velho tio se referia ao respeito que as crianças desde muito tenras desenvolviam pelos anciões e me disse que em Nova Cruz existia um velhinho que lembrava muito a figura de papai Noel: pela idade, pela barba e pelos cabelos que a natureza tece de neve com a idade.
Na véspera de Natal, o referido velhinho chegava a ficar transparente, o corpo todo branco era vestido com uma camisa comprida branca e uma calça branca, avermelhado só a chinela de rabicho que prendia entre os dedos dos pés... Era um homem muito pobre, na mesma proporção que era querido e respeitado pelas crianças de Nova Cruz.
No dia glorioso do Natal, às 15h da tarde, o velhinho se sentava na cadeira espreguiçadeira de pano na calçada de sua humilde residência, fazia parte da tradição e do ritual do Natal, todas as crianças irem cumprimentar o velho que nem um confeito possuía para dar aquelas criaturinhas que paravam na sua calçada, lhe estendiam a mão e pronunciava antes de beijá-la: A BENÇÃO PAPAI NOEL...
Tio Paulo me falou que aquele ato era praticado por todas as crianças de Nova Cruz, era um evento do Natal. Um evento que poderia ser resumido em duas palavras: EDUCAÇÃO E RESPEITO pelos idosos.
Ainda não existia televisão, a Rede Globo, os vídeo games, o facebook, watzap... O que existia era pais e mães que sabiam educar seus filhos ou que podiam educar seus filhos sem as influencias maléficas.
Ontem, em pleno 2020, estou num grande shopping que no seu corredor tinha uma tenda feita de motivos natalinos, com papai Noel sentado no seu trono, dirigido por meninas moças tipicamente vestidas e facilitando a aproximação das crianças com papai Noel... Ecoava da tenda músicas natalinas provenientes dos Estados Unidos, da autoria do maestro Guershing... Nisto se aproxima uma criança de uns 6 anos, branca, sarará, de nariz empinado; Uma das moças lhe pergunta: Veio tirar retrato com papai Noel? Bruscamente, a criança responde: Quem disse que eu quero tirar retrato com esse filho da puta... Parei, observei a cena e disse para mim mesmo, o quintal desta criança só pode ser a internet. E me lembrei de um samba de Pedro Miranda, que se inicia assim: EU NUNCA JOGUEI BOLA, NUNCA ANDEI DE PATINETE, O QUINTAL DA MINHA CASA CABE DENTRO DA INTERNET.