domingo, 10 de fevereiro de 2013

UM FOLHETO DE CORDEL...


JOÃOZINHO E ROSINHA E O PAI SEM CORAÇÃO
Desgraça sempre acontece
Onde impera a traição
Inveja ganância e ódio
Falsidade e ambição
Toda sorte sai mesquinha
Foi com João e Rosinha
Por um pai sem coração
No Rio Grande do Norte
Há muito tempo passado
Morava um pobre viúvo
Trabalhador do roçado
Mesmo trabalhando tanto
Ninguém avalia o quanto
Ele era necessitado
Sendo pai de dois rapazes
Eram Joãozinho e Zezinho
Depois que ficou viúvo
Cuidou dos filhos sozinho
Como um pai tão amoroso
Dos seus filhos bem zeloso
Dando pra eles carinho
Levando a luta diária
No roçado trabalhava
Conseguindo muito pouco
Quase em nada melhorava
Dando duro pra valer
Nem mesmo para comer
O lucro deles não dava
Cada dia que ia passando
Não havia uma melhora
Somente a esperança
Que não deixava uma hora
Mudança naquele chão
Mas era esperar em vão
Cada dia vinha à piora
Cansado daquela vida
Desejando melhorar
Joãozinho sendo o mais velho
Pediu ao pai pra casar
Seu pai lhe deu permissão
Tinha ele no coração
Uma moça do lugar
Joãozinho no seu lugar
Era bem relacionado
Apesar da sua pobreza
Nunca lhe faltava agrado
Das moças da vizinhança
Que traziam na esperança
Terem um futuro dourado
A jovem que ele gostava
Era uma linda mocinha
Filha de família pobre
Que da sua era vizinha
Divina e maravilhosa
Foi batizada por Rosa
Só lhe chamavam Rosinha
Rosinha era moça bela
Alegre e muito sincera
Talvez nisso demonstrasse
Que educação tivera
Não havendo na sua classe
Quem da jovem não gostasse
Por tudo que a moça era
Ela já alimentava
Sublime amor por Joãozinho
A quem sempre dedicava
Amor sincero e carinho
Foi daquele sentimento
Que se tornou casamento
Para o amor novo ninho
Logo depois que casaram
Joãozinho foi trabalhar
Começou a comprar gado
E vendendo no lugar
Melhorando a condição
Pra seu pai e seu irmão
Nada ele deixou faltar
Comprava gado de fora
E trazendo pra cidade
O negócio foi crescendo
Com muita facilidade
Seu capital aumentando
Em pouco tempo tornando
A maior prosperidade
Comprou uma casa grande
Pra seus parentes morar
O pai e também Zezinho
Pra ninguém se preocupar
Porque nada lá faltava
Até dinheiro mandava
Para algo novo comprar

Rosinha muito feliz
Ao lado do seu amado
Vida de menina pobre
Ficara lá no passado
Era uma esposa decente
Querida por toda gente
Lá daquele povoado
Três anos de casamento
Joãozinho folga não tinha
Rosinha apareceu grávida
Teve uma linda filhinha
Pra felicidade aumento
Com muito contentamento
Para Joãozinho e Rosinha
Ele começou um hábito
Toda vez quando chegava
Ou saía numa viagem
Na casa do pai passava
Pra recomendar Rosinha
Que ficava com a filhinha
Só depois que viajava
Porém um mau sentimento
Naquele pai existia
Um grande peso na alma
Que seu filho não sabia
Muita inveja e ambição
Transbordando o coração
Onde o mal prevalecia
Que ele levasse essa carga
Ninguém não imaginava
Qualquer um olhando via
Só o que a vista enxergava
Seu pai disfarçava bem
Como bom filho também
Dele não desconfiava
Vendo o dinheiro do filho
Nele a inveja nasceu
Foi muito trabalhador
Na luta nunca venceu
Ficou com a alma pesada
Tendo a mente perturbada
Do mau o espírito se encheu
Falou pro filho Zezinho
Já num tom muito zangado
Disse – Não aguento mais
Viver aqui humilhado
Joãozinho sei que trabalha
Mas me manda uma migalha
Tendo dinheiro avultado
Zezinho lhe respondeu
Não fale assim, por favor,
Seu filho tem sido bom
Para mim e pro senhor
Ouvindo falar assim
Pensará que ele é ruim
Uma pessoa sem valor
Após essa discussão
Ele se fez conformado
Sem falar nada um ao outro
Cada um ficou calado
Zezinho achou uma afronta
Mas não quis levar em conta
O que o pai tinha falado
Joãozinho vinha chegando
Manifestando alegria
Tudo caminhava bem
Bom negócio ele fazia
Gostava muito do pai
Pensando consigo vai
Sair como pai queria
Voltando dessa viagem
Ele estava satisfeito
Abraçou logo seu pai
Falando-lhe a respeito
De trabalhar e ter valor
Dizendo : Só o senhor
Alegra-me deste jeito
Ele sabia que o pai
Desejava trabalhar
Já preparava um açougue
Em poucos dias ia montar
O pai chamava pra sócio
Do seu promissor negócio
Que muito iria ajudar
Mas quando o filho saiu
Ele falou para Zezinho
- Acho bom que saiba logo
Quero roubar o Joãozinho
Dinheiro ele tem a vontade
Depois vem com falsidade
Se fazendo de bonzinho
Ouvindo o pai ficou trêmulo
Não estava acreditando
Como um pai roubar o filho
Que tanto vinha ajudando
Lembrou sua necessidade
Na pobreza de verdade
Cresceu sem viver roubando
O velho muito invejoso
Começou logo a pensar
Na fortuna de Joãozinho
Num jeito para roubar
Em Zezinho ele pensou
Também não lhe convidou
Que não iria aceitar
Zezinho havia lhe dito
Que jamais aceitaria
Fazer nada com o irmão
Nem pensasse que não ia
Ter maldade sem tamanho
Não se faz nem com estranho
Uma grande covardia
Ficou esse pensamento
Guardado no seu sentido
Mantendo-se bem calado
De semblante entristecido
Quando o filho viajasse
Sem que em nada pensasse
Já estava decidido
Rosinha naquela noite
Dormindo quando sonhava
Com dois ladrões mascarados
Na casa a noite chegava
Dois monstros sem confiança
Que matavam ela e a criança
Muito aflita ela acordava
De manhã ela contou
O sonho para o marido
Contando o sonho estava
Com semblante entristecido
Ele ouvindo e com carinho
Dizia-lhe – Sonhar benzinho
É ilusão do sentido
Na noite daquele dia
Tinha ele que viajar
Ela falou que – No sonho
Não parava de pensar
Que pra ficar desse um jeito
Mas por ter negocio feito
Disse – Não posso ficar
Confortou ela dizendo
- Tenha fé e confiança
Só viajarei por que
Não dar pra fazer mudança
Vou pedir pra guarnição
De meu pai e meu irmão
Dando toda segurança
Meu pai dando a segurança
Aqui com o meu irmão
Atendendo ao meu pedido
Tendo a maior atenção
Enquanto eu estiver fora
Não deixarão uma hora
Em nada descuidarão
Ela ainda argumentou
Que o marido ficasse
Embora na segurança
Do pai dele confiasse
Estava tão abalada
Só ficaria sossegada
Se ele não viajasse
Mas não podendo atender
Aos apelos da amada
Preparou-se pra viagem
Bem antes da madrugada
Na casa do pai passou
Com o velho conversou
Pra poder pegar a jornada

Na conversa com seu pai
Joãozinho também falou
Sobre o sonho de Rosinha
O pai se prontificou
Fornecendo garantia
Que a segurança faria
Joãozinho então confiou
Assim que o filho saiu
O pai dele sem demora
Acordou logo Zezinho
Deu-lhe uma surra nesta hora
No filho uma máscara botou
Outra no rosto amarrou
Saíram de porta afora
O velho ia muito apressado
Zezinho lhe acompanhando
Pedindo perdão a Deus
Da sorte se lastimando
Na mais difícil missão
Apertando o coração
O rosto em pranto banhando
Só tinha dezesseis anos
Considerado um menino
Governado pelo pai
Que tinha gênio de assassino
Por respeito acompanhava
Porque ele não mandava
Ainda no seu destino
Na saída de Joãozinho
Rosinha viu o abandono
No momento se sentia
Um cão perdido sem dono
Tendo a filha do seu lado
Embora sentisse enfado
Nunca lhe chegava o sono
Pensava naquele sonho
Quando ela ouviu a zoada
Eram bandidos chegando
Igual a noite passada
Ela aguçando os ouvidos
Percebeu fortes ruídos
Da porta sendo quebrada
Quando parou a zoada
Ela notou que entraram
Estavam dentro de casa
Por todo canto pisaram
No sono quis se esconder
Para Deus lhe socorrer
Quando perto encostaram
Abraçando-se a filhinha
Quando um se aproximou
Pegando a força a criança
Dos braços dela arrancou
Segurando-a pelo braço
Puxando um punhal de aço
Rosinha então desmaiou
O velho matou Rosinha
Estava muito irritado
Por não encontrar dinheiro
Tendo a casa revirado
Com o punhal na mão lança
Sobre o peito da criança
Deixando nela cravado
Jogou na primeira sala
Prosseguindo na jornada
Em todo canto da casa
Como não encontrou nada
De procurar se cansou
Sem achar nada ficou
Como uma fera assanhada
Procurando demoraram
Sem haver nada encontrado
Porque o dinheiro estava
Num banco depositado
Mas eles só desistiram
Quando fora pressentiram
Que alguém tinha chegado
Depois que saiu Joãozinho
Já indo muito distante
Ele pensava em Rosinha
Aconteceu num instante
Seu cavalo refugar
Cavar o chão relinchar
Sem querer seguir adiante
Seguir viagem a cavalo
Ele não obedeceu
Puxado pelo cabresto
Também não lhe convenceu
Quando resolveu voltar
Viu o cavalo disparar
Como nunca aconteceu
Sem precisar de esporas
Numa carreira danada
Quando chegaram à casa
Umas três da madrugada
Joãozinho teve a surpresa
Pensou vendo a luz acesa
- Rosinha ainda acordada!
Estranhou o portão quebrado
Quando alguém saía correndo
Sacou logo seu revolver
Dois vultos foi percebendo
Fez sua arma detonar
Dois tiros pode acertar
Ainda nada entendendo
Entrando de casa adentro
Foi sua mulher procurar
Passando na sala grande
Seu calçado quis pregar
A criança morta estava
O sangue dela marcava
O seu rastro no lugar
Subindo viu que seu quarto
Tinha a porta escancarada
Viu tudo desarrumado
Também a porta quebrada
Sentindo queimar a alma
Não pode manter a calma
Vendo ela ensanguentada
Ficou logo como um louco
Sua alma estava ferida
Só por causa de trabalho
Sua mulher perdeu a vida
O coração espedaçado
Procurou por todo lado
Sem ver a filha querida
Ele muito amargurado
No desespero chorou
Voltando de novo a sala
Quando o rastro observou
Com sangue no chão marcado
Ali num punhal cravado
A criancinha encontrou
Saiu da casa pra fora
Quase para o coração
Foi que lembrou dos bandidos
Que viu caídos no chão
Quando as máscaras retirou
Quase que ali desmaiou
Vendo o pai e o irmão
Conhecendo que os bandidos
Que ele havia matado
Ser o pai e o irmão dele
Em quem tinha confiado
Para garantir Rosinha
Que morreu com a filhinha
Por um sogro desgraçado
Ficou muito atordoado
Com aquele acontecido
Estava descontrolado
Seu mundo estava perdido
Com seus nervos em pedaços
Da família todos os laços
Tinha desaparecido
Joãozinho foi à polícia
Contou o que aconteceu
Entregou-se pra prisão
Porém ninguém lhe prendeu
Sem a esposa e sem filha
Ele seguiu outra trilha
Dali desapareceu
Montado no seu cavalo
Saiu da delegacia
Lamentando a triste sorte
Foi aquele o pior dia
Seguiu um novo caminho
Precisava andar sozinho
A vida em frente seguia
Quando era menino pobre
Com muita necessidade
Não pensava que riqueza
Trouxesse infelicidade
Que a inveja e ambição
Trocasse o bom coração
Do pai por um de maldade
Ninguém mais ouviu falar
Da sua nova trajetória
Foi minha mãe que contou
Guardei tudo na memória
Disse ela que um violeiro
Cantando com um companheiro
Divulgava a triste história.

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