sábado, 23 de outubro de 2010

UMA PARÁBOLA BRASILEIRA...

Hardy Guedes

A FÁBULA DO BARCO À DERIVA


Era uma vez um enorme transatlântico, cheio de gente, em meio a um mar revolto, agitadíssimo! E bota agitado nisso!

Ondas gigantescas batiam no casco, varriam o convés, alcançavam as escotilhas das cabines, provocando um pânico generalizado.

Para aumentar as dificuldades, as tempestades não cessavam. Relâmpagos e tempestades cortavam os céus. O mau tempo parecia interminável.

Os passageiros, perdidos e atônitos, botavam os bofes para fora. Muitos, se pudessem saltar do barco, com certeza o fariam!

À medida que um novo comandante assumia o leme, fazia uma tentativa diferente de tirar o barco daquela situação mais do que incômoda.

Alguns procuraram mudar de curso, mas não conseguiram deixar de navegar sob mau tempo, enfrentando mar grosso.

Outros navegavam em círculos.

Outros mais, tentavam fazer com o que o barco andasse mais ligeiro, calculando que, assim, fugiriam das intempéries.

Nada dava certo.

Tentaram desacelerar, trocar o combustível… Houve até quem sugerisse que, em vez de motor, deveriam içar velas como as antigas naus. Tudo sem sucesso.

Certo dia, depois de inúmeras tentativas fracassadas, assumiu o comando um certo oficial que experimentou vários pilotos. Nenhum deles estava conseguindo acertar uma rota segura, até que um dos escolhidos tomou várias medidas importantes e o navio começou a se estabilizar.

Pouco a pouco, começou a navegar, embora, de vez em quando, os passageiros continuassem a sentir um certo desconforto, enjôos… Mas já experimentavam alguma melhora.

Não é difícil imaginar que, depois de tanto tempo navegando quase às cegas, sofrendo toda a sorte de intempéries, o navio estivesse muito avariado.

Era necessário reparar o casco, reorganizar o lastro para que ele não adernasse demais… Até mesmo jogar fora uma parte da carga que, por ser excessivamente pesada, poderia comprometer o equilíbrio do navio.

Era preciso encontrar uma enseada para poder consertar o casco, reparar as máquinas, calafetar as escotilhas…

Por fim, o navio ficou em condições de navegar novamente e recomeçou a levar os passageiros em segurança, por mares mais tranquilos; a oferecer mais conforto a todos que estavam embarcados…

Mas o comandante que operou o milagre de salvar o transatlântico de um verdadeiro desastre em alto mar, não podia mais continuar no comando.

Os tripulantes escolheram, então, um marinheiro barbudo, de fala rouca, para assumir o comando.

Ele, que vivia criticando o antigo comandante pelos rumos escolhidos, assim que assumiu o leme, decidiu ficar na mesma rota. Teve medo de seguir no rumo que anunciara e, por incrível que pareça, passou a se vangloriar de que era o melhor comandante de navios do mundo.

Vivia repetindo aos quatro ventos: nunca antes na história da navegação, houve um comandante que pudesse levar esse navio tão a salvo para ilhas paradisíacas… Mesmo que o paraíso ainda estivesse (e continua) bem distante.

Os passageiros, que se sentiam mais seguros, porque o antigo comandante havia conduzido o barco para águas calmas, esqueceram as intempéries, as ondas gigantescas, os enjoos…

Moral da História: Depois que as intempéries passam, a memória dos passageiros de um navio enfraquece!

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